Quinta do Bom Retiro, Vale do rio Torto. |
"2023 foi uma vindima bastante intensa. As condições climáticas durante o ano permitiram que as vinhas chegassem à vindima com os recursos suficientes para assegurarem a correcta maturação das uvas. Começamos a vindima a 23 de Agosto com os brancos e a 24 de Agosto com os tintos, As uvas para o vinho do Porto começaram a entrar no dia 1 de Setembro. No início, a vindima começou com tempo muito quente e estável no final de Agosto, mas durante o mês de Setembro, tivemos períodos de chuvas intensas que provocaram dificuldades em vinhas mais sensíveis e frágeis. O ritmo de corte foi sendo adaptado em função das instabilidades climáticas. Demos por terminada a entrada de uvas no dia 29 de Setembro. Como balanço, estou muito entusiasmado com o potencial dos vinhos este ano, especialmente aqueles colhidos antes da segunda vaga de precipitação mais forte.".
Ricardo Pinto Nunes, Enólogo e Director de Produção da Churchill's.
"Inicialmente as expectativas eram promissoras, mas durante as primeiras semanas enfrentamos um grande desafio; chuva abundante. A cigarrinha verde (ou cicadela, uma praga da vinha) pela primeira vez manifestou-se nas nossas vinhas, junto ao rio Douro, Quinta Vale d'Agodinho e Alegria. Ainda assim, sem nunca desistir, conseguimos produzir vinhos que deixam belas memórias, embora em quantidades menores.
(12Out) Acabamos recentemente a vindima, há uns dias atrás, temos ainda alguns lagares e tanques com fermentações a decorrer. Foi uma vindima muito desafiante, em que mais uma vez as melhores vinhas foram as localizadas a maior altitude, talvez não tanto as que estão no topo da montanha, a 700 metros, mas talvez mais as que estão a uma altitude de 400/500 metros, essas vinhas não foram tão afectadas pela chuva ou pela cigarrinha verde que é uma pequena mosca que começa a comer a folha das vinhas, o que aconteceu no início de Julho e que em determinado ponto parou o processo de maturação nas vinhas localizadas a baixa altitude no Douro Superior e depois na área do Cima Corgo até ao Tua.
É também interessante verificar que as alterações climáticas estão também a alterar o modo como estamos a fazer vinho no Douro, penso que esta tendência vai continuar, vamos ter cada vez mais os melhores vinhos a terem origem nas vinhas a maior altitude, e sentimos isso na adega.
No início da vindima esperava o melhor, com as chuvas a meio da vindima fiquei um pouco preocupado, mas agora que temos todas as uvas colhidas acho que tivemos vários lotes com muita qualidade mas precisamos de ser muito selectivos com aquilo que produzíamos.":
Óscar Quevedo, Produtor Quevedo Wines. (de uma versão áudio)
Vale do rio Torto, EN222. |
Depois de um ano/ciclo extremamente seco e quente - 2022 foi o ano hidrológico mais seco desde 1931 - a chuva de Setembro, apesar de superior ao normal, foi ainda insuficiente para o aumento das disponibilidades hídricas superficiais ou subterrâneas, porque os solos estavam extraordinariamente secos.
No início do Outono, a ansiedade entre os viticultores durienses exprime-se bem nas palavras de António Magalhães, Director de Viticultura da Fladgate Partnership: "No ano passado nós atravessamos um ano absolutamente árido, impensávelmente árido, as uvas, as videiras protegem-se dessa aridez até à exaustão. Era absolutamente necessário ter um Outono e um Inverno com chuva, mas vivemos muito tempo nessa angústia, e tivemos o melhor Outono e Inverno que podíamos ter, depois do ano 22. O Outono e o Inverno passado foi um momento feliz.".
A tão necessária chuva, fundamental para a agricultura da região, chega finalmente a partir de 10 de Outubro e daí em diante, depois em maior quantidade e em todo o Douro, de 19 e até ao fim de Outubro e depois durante o mês de Novembro, que foi também um mês com chuva intensa. Em Outubro e Novembro, as temperaturas estiveram acima dos valores médios (entre 2,5ºC a 4ºC). Em todo o caso, houve um desagravamento da situação de seca meteorológica em todo o país (32,2% do território em situação de seca severa) e o Douro numa situação de seca moderada.
O Outono instala-se, as vinhas mudam de côr, o verde desaparece progressivamente e a paisagem veste-se com as cores de Outono, as temperaturas descem e as videiras preparam-se para o inverno.
A chuva voltou a partir de 5 de Dezembro a toda a região vinhateira chegando a uma situação de instabilidade meteorológica com trovoada e chuva persistente e forte. Regista-se que no dia 14 de Dezembro, o leito do rio Douro subiu cerca de 2 metros em relação ao nível médio habitual.
Dilúvio. Os dados da precipitação registados no dia 13 de Dezembro: em Cambres, 35,8mm - Pinhão, 35mm - Vilariça, 29mm - Canelas, 39mm. A previsão de cheias levou a que fosse activado o plano de cheias na bacia hidrográfica do Douro, para o nível amarelo. O caudal do rio Douro e dos seus tributários aumentou muito. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, as chuvas de Outono voltaram a encher as reservas, algumas até ao limite, como foi caso da bacia do Douro.
Inverno
O início do Inverno continuou chuvoso e desde meados de Dezembro que as temperaturas em toda a região estão acima dos registos médios, entre 3ºC a 4ºC. Nos últimos dias do ano e começo do novo ano, toda a região foi afectada pelo mau tempo, tempestade e muita chuva intensa, consequência da passagem de uma superfície frontal fria de actividade forte.
Nas vinhas, o período é agora de descanso e recuperação para a próxima estação. Muitas das actividades anuais de poda continuam e decorrem durante o mês de Janeiro, numa longa, trabalhosa e importante tarefa para assegurar o equilíbrio entre as funções vegetativa e produtiva e o futuro da quantidade e qualidade da produção da videira.
A partir de meados de Janeiro, as temperaturas baixam para valores inferiores aos registos médios, neva na Serra do Marão e na Serra do Alvão. No dia 22 de Janeiro registam-se temperaturas muito baixas nos distritos de Vila Real e Viseu, consequência de uma massa de ar frio e seco (menos 3ºC a 4ºC em relação aos valores médios). Tempo seco com dias de inverno muito frios, com sol e céu azul, temperaturas minímas muito próximas do zero ou mesmo negativas em alguns locais do Douro (exps.: temperaturas minímas no dia 24Jan; Cambres, -1ºC, Adorigo, -1,6ºC, Pinhão, 0,5ºC, Vilariça, -4,3ºC, Canelas,0,4ºC - no dia 31Jan; Adorigo, -2,0ºC - no dia 5Fev; Vilariça, -3,8ºC).
Nos grandes cenários do Douro, o frio típico de Janeiro cobre as vinhas com um manto branco causado pela geada. Até à primeira semana de Fevereiro, mantém-se o tempo seco e temperaturas baixas em toda a região, depois, em meados do mês, as temperaturas começam a subir, com temperaturas máximas mais altas que lembram que a Primavera está próxima.
Em todo o caso, o Outono e Inverno foram estações muito chuvosas, em contraste com o Inverno do ano anterior que tinha sido muito seco.
Com dias de sol de Inverno, no dia 7 de Fevereiro e depois ao longo do mês, chegam as primeiras notícias do "choro da videira", a lacrima vitis, o fenómeno natural que marca o fim do repouso vegetativo da videira e que consiste na seiva vegetal que circula na planta e que se acumula nas extremidades atingindo os cortes da poda de Inverno e que marca o começo de um novo ciclo vegetativo da planta anunciando o fim do Inverno.
Em Fevereiro e Março, as paisagens do Douro Superior, no concelho de Vila Nova de Foz Côa cobrem-se de rosa e de branco com as amendoeiras em flôr.
Em Março, tempo seco e temperaturas baixas, atingindo as temperaturas mínimas valores negativos em muitos locais (por exp., -3,6ºC na Vilariça, nos dias 28Fev e 3Mar), a que se segue alguma chuva e as temperaturas a aumentarem para os valores médios para a época do ano.
As vinhas começam a despontar, a sair do longo sono de inverno e a ganhar vida, inicia-se a fase do abrolhamento (as notícias dos primeiros rebentos em 17Mar., em Canelas, no Baixo-Corgo - 19Mar., na Quinta Seara D'Ordens - 21Mar., na Quinta da Roêda - 22Mar., na Quinta do Noval e na Quinta da Manoella, no vale do rio Pinhão - 23Mar., na Quinta da Romaneira e 25Mar., na Quinta da Gricha). Com o aumento da temperatura média e mais horas diárias de sol, os gomos deixados pela poda aumentam de tamanho e depois surge uma ponta verde, os primeiros rebentos e são reconhecíveis as primeiras folhas. Existem castas mais precoces em que o abrolhamento ocorre mais cedo e outras mais tardias.
Recepção de uvas na adega da Van Zellers & Co. |
Primavera
A natureza segue o seu curso com um novo ciclo num início de Primavera seco (apenas com alguma pouca chuva) e temperaturas a aumentarem e acima dos valores médios (entre 2ºC a 4ºC). A partir do abrolhamento da videira normalmente decorrem 6 meses até à próxima vindima.
Os dias de Primavera no Douro, entre final de Março e o início de Abril decorrem com sol e tempo quente, temperaturas médias e máximas a subirem e superiores aos registos médios entre 3ºC a 4ºC (no dia 28Mar., no Pinhão registou-se uma temperatura máxima de 28,5ºC e uma temperatura mínima de 7,2ºC).
Apesar do Inverno chuvoso, o mês de Abril foi quente e seco com calor e muito pouca chuva o que levou a que 80% do território nacional chegasse a uma situação de seca e no Douro a situação evoluísse também para uma seca fraca a moderada, de acordo com os dados do IPMA.
Nas vinhas, em finais de Abril, as folhas desenvolvem-se rapidamente e tomam o seu aspecto definitivo e os rebentos mudam a côr rosada para tons esverdeados, surgem os primeiros botões florais e o aparecimento e separação dos cachos. Tem início a floração da videira durante o mês de Maio. A 10 de Maio, na Quinta do Crasto observam-se os botões florais separados e em alguns casos, no Douro Superior já é possível observar a floração na maioria das castas, que na Touriga Francesa vai mais adiantada. É uma fase importante e sensível no ciclo da videira, em que as condições de clima têm uma influência directa, por exemplo, se chover, o polén é levado dos estames das flores que, sem polinização e fecundação levam a que não surja o fruto e a prejudicar as futuras colheitas. Este ano, em geral, a floração da videira ocorreu em finais de Abril de uma forma "rápida e homogénea", havendo também condições favoráveis para o vingamento da videira.
As vinhas estão bonitas e crescem a bom ritmo, surgem os primeiros chachos não individualizados que eventualmente se separam e vão determinar a nascença (cada ramo da videira comporta 1 a 4 cachos).
Em Maio as temperaturas foram altas, acima dos valores médios (por expl., no Pinhão registou-se uma temperatura máxima de 29,6ºC, assim como em Soutelo do Douro e em Canelas, 30,2ºC).
No final de Maio, de 28 a 31, surgem os imponderáveis climáticos, o tempo ficou incerto com a ocorrência de chuvas violentas, tempestades de granizo, trovoada e vento forte, que em pouco tempo provocou avultados estragos em algumas áreas da região demarcada, como nos concelhos de Alijó, Murça e Carrazeda de Ansiães. A intensidade da tempestade de granizo deixou marcas em centenas de hectares de vinha e olival. Os viticultores tentaram minimizar os prejuízos (tratamentos com fitofármacos) e salvar as videiras, falou-se em perdas de milhares de euros.
No início de Junho, apesar dos estranhos padrões climáticos, os cachos começavam a formar-se. A uma Primavera quente seguiu-se uma tempestade de chuva e a ameaça do granizo. Apesar das condições de final de Maio, em Portugal continental, o mês de Maio foi o oitavo mais quente desde 1931 e a maior parte da região do Douro estava em situação de seca moderada.
Nas vinhas, após a floração, entre Maio e Junho, dá-se a fase inicial de crescimento dos cachos, o resultado da polinização das flores com a frutificação que origina já os bagos de uva.
A 12 de Junho, em Murça, Freixo de Numão, Mêda e Vila Nova de Foz Côa, as notícias de estragos provocados pela intempérie de chuva e queda de granizo, que é um dos piores inimigos da agricultura, que destruiu muitas produções deste ano e comprometeu a do próximo (as varas das videiras ficaram muito afectadas e foram aplicados os tratamentos com cálcio para rápida cicatrização). Os prejuízos causados na vinha, que é a primeira fonte de rendimento destes territórios da sub-região do Douro Superior, foram considerados catastróficos para o sector vinícola dos concelhos mais atingidos. São tempestades que, para além de destruírem as uvas e videiras, causam igualmente o desmoronamento dos patamares, socalcos e muros de suporte das vinhas, que são difíceis de reparar. No passado aconteciam normalmente intervaladas por alguns anos, actualmente podem acontecer várias vezes no mesmo ano.
Como consequência verificou-se a incidência e enorme pressão de doenças da vinha como o oídio e míldio, o que obrigou à realização de vários tratamentos fitossanitários mas que, no entanto, foram muito difíceis de controlar.
Houve também uma ocorrência invulgar, uma ataque de grande dimensão de cigarrinha verde ou cicadela, como raramente visto na região com esta intensidade. É uma praga da vinha, um insecto que destrói as folhas da videira e a sua capacidade fotossintética num momento fundamental do seu desenvolvimento, provocando estragos e perdas de produção (um enfraquecimento da planta, a dificuldade do amadurecimento dos ramos e afecta a qualidade da produção).
Em todo o caso, apesar dos inconvenientes, a chuva que caiu permitiu aliviar e regularizar para valores normais o stress hídrico que as videiras estavam a sentir.
Verão
As uvas começam a pintar. Um pouco por toda a região surgem as primeiras notícias da chegada do "pintor" às uvas, sobretudo da casta Touriga Francesa, uma das mais precoces.
O início de Verão foi bastante quente, com temperaturas altas e superiores à média (temperaturas máximas registadas, 24Jun., no Pinhão, 38,2ºC e 39,1ºC na Vilariça), o tempo quente e seco manteve-se, as temperaturas bastante acima dos valores médios (entre 4ºC a 5ºC no início do mês de Julho) e temperaturas máximas altas. Mundialmente, o mês de Junho foi o mais quente desde que existem registos, mais um indício das rápidas alterações climáticas.
Julho é um mês de alterações nas vinhas, é conhecido como o mês do "pintor", as uvas começam a mudar de côr, a amadurecer e a acumular reservas. As videiras começam a mostrar os vários tons de côr dos bagos das uvas e prevê-se que a vindima chegue mais cedo do que o previsto.
"Pelo Santiago pinta o bago" (25 de Julho), um antigo provérbio que se refere a este fase do ciclo da vinha.
A previsão de produção para a vindima de 2023 divulgada a 12 de Julho pela ADVID (Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense) - que considera sobretudo o potencial de floração com base no método de pólen recolhido nesta fase, nas três sub-regiões do Douro e não toma em conta todos os factores que podem ocorrer depois deste momento e que podem alterar o potencial de colheita, como fenómenos climáticos ou doenças da vinha - apontava para um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
Em meados de Julho tínhamos "cachos cheios, bagos sãos e com boas condições de desenvolvimento.".
Final de Julho e início de Agosto com tempo seco e temperaturas de acordo com os valores médios, para o acompanhamento do amadurecimento das uvas são feitos os primeiros testes de maturação, com a recolha de bagos de uvas nas vinhas ou várias parcelas de vinha com o objectivo de determinar parâmetros como o peso, o álcool provável, a acidez e o pH.
Lagar na Quinta da Gricha (Churchill's). |
A Vindima
É tempo de percorrer as vinhas regularmente e avaliar o processo de maturação das uvas.
Até meados de Agosto, sempre com tempo seco e dias muito quentes, temperaturas médias próximas dos 30ºC e máximas superiores a 40ºC (no dia 22 de Agosto, 45,4ºC em Adorigo e 44,4ºC no Pinhão), depois no final do mês baixaram para valores mais aproximados dos registos médios nesta época do ano.
No Douro, a vindima dura, em regra, aproximadamente 6 semanas para vindimar os 42.000 hectares de vinha da região demarcada e cerca de 20.000 pessoas estão envolvidas neste trabalho.
A vindima foi muito precoce, em pleno mês de Agosto e em alguns casos foi antecipada duas semanas em relação ao ano anterior.
Na Ramos Pinto, a 3 de Agosto, a vindima já tinha começado, sendo a casta branca Viosinho, a primeira a entrar na adega. Na Quinta do Vallado, as uvas da casta Moscatel Galego branco são sempre as primeiras a ser vindimadas, este ano a 8 de Agosto. Na Quinta de Ventozelo a vindima começou no dia 9 de Agosto. A 12 de Agosto a primeira fase da vindima na Vieira de Sousa, com as uvas das castas Tinta Francisca e Rufete. Na Quinta do Vale Meão, no dia 13 de Agosto foram vindimadas as uvas da casta Rabigato da vinha "Janeanes". A Quinta do Crasto iniciou a vindima das uvas brancas das cotas mais altas no dia 15. A Adega de Favaios começou a vindimar o Moscatel Galego e Roxo no dia 16 de Agosto e depois as restantes variedades de uvas brancas.
A Quinta do Noval iniciou a vindima das castas brancas Viosinho e Gouveio no dia 17 de Agosto. No dia 18 de Agosto, a Quinta de la Rosa inicia a apanha das uvas brancas das zonas mais altas da Quinta das Lamelas. No mesmo dia, na Kranemann vindimaram-se as uvas Bastardo, uma variedade precoce, cerca de duas semanas mais cedo do que no ano passado. A Van Zellers & Co. iniciou a vindima das castas brancas no dia 23 de Agosto e concluiu esta fase no dia 30, com uma grande quantidade de uvas, as vinhas produziram mais e com boa qualidade.
Início de vindima: 22Ago. na Quinta de Cottas em Alijó - a Vallegre no dia 23Ago. e em Ervedosa do Douro, a Churchill's e a Quinta do Pessegueiro, com as castas brancas - 25Ago., a Quinta dos Lagares, no Vale do Pinhão - 28Ago., a Quinta do Têdo com a vindima da casta Tinta Roriz - 30Ago., a Quinta do Cume e na Duorum, em Vila Nova de Foz Côa, vindima das castas brancas Códega do Larinho e Rabigato.
No dia 5 de Setembro começou a vindima na Quinta do Panascal, propriedade da Fonseca Guimaraens (The Fladgate Partnership), no vale do rio Távora, que terminou a 4 de Outubro.
O tempo estava muito quente no início da vindima e depois com temperaturas mais amenas, em geral, as uvas brancas chegaram em perfeitas condições e houve maior produção, os mostos eram ricos e intensos. Em toda a região, o potencial do ano para os vinhos brancos foi inquestionável.
Depois, em plena vindima, a partir dos dias 2 e 3 de Setembro, começou um período de instabilidade climatérica em toda a região norte do país, com a ocorrência de chuva forte, trovoada e granizo, com alguma irregularidade e com fenómenos localizados e intermitentes de chuva e queda de granizo que afectou o início e genericamente todo o planeamento do decurso da vindima das uvas tintas, que foi também intermitente e com frequentes paragens e recomeços.
Acabou por ser uma vindima longa, que tinha começado com perspectivas muito boas mas que acabou por ser seriamente afectada por um período de várias semanas de instabilidade climatérica.
Em geral, a vindima estava terminada no final do mês de Setembro. E agora, toda a atenção volta-se para o trabalho incessantes nas adegas...
Comentários gerais
Antes e sobretudo quando a vindima se iniciou, a previsão era de um excelente ano em toda a região vinhateira, até que as chuvas espaçadas e agressivas que surgiram logo nos primeiros dias de Setembro e depois ao logo do mês, alteraram dramaticamente esse cenário.
O ano pode dividir-se em dois momentos bem distintos: o primeiro refere-se às uvas vindimadas antes do período de chuvas, que incluem todas as uvas destinadas aos vinhos brancos, espumantes e alguns vinhos tintos, e uma segunda fase, em que as uvas que se destinavam, aos melhores vinhos os Porto e aos vinhos D.O.C. Douro de qualidade superior, foram as mais afectadas pelas chuvas.
Foi um ano de elevada produção, muito para além dos 10% previstos inicialmente e o problema chegou com a vindima. Muitos viticultores tentaram vender as suas uvas a operadores privados, mas sem sucesso, e a solução possível foi encaminhar as uvas para as adegas cooperativas que, com o excesso de uvas recebidas diariamente, ficaram no limite da sua capacidade, comprometendo a capacidade logística e de armazenamento (na Adega de Vila Real, no dia 28 de Setembro, a vindima foi suspensa por excesso de uvas recebidas) - em alguns casos a uva recebida representou mais 50% do que a média dos últimos anos.
Para encontrar soluções para este problema foram propostas várias medidas, uma das quais, defendida pelas associações representativas da produção de vinhos do Douro e Porto, seria uma intervenção do estado para que se realizasse uma destilação, transformando a totalidade do excedente de vinho deste ano, em aguardente que depois seria vendida à indústria. Foi também proposto, para o próximo ano, introduzir o contrato de vindima, celebrado entre os viticultores e os operadores privados, para evitar cenários como os que ocorreram este ano. O viticultor quando entrega as uvas deverá saber logo à partida a quantidade que o operador vai querer e que preço vai pagar, não ficando à espera que se fechem as contas para a definição do preço final a pagar pelas uvas - propostas que foram entregues no Ministério da Agricultura.
Texto e fotografias ©Hugo Sousa Machado
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