domingo, 24 de março de 2019

Meanwhile in Porto, the exhibition: "Douro [DWR], three soils between heaven and earth" / "Douro [DWR] três solos entre céu e terra"

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Skrei "Antrosolo", 2018: a collection of soils from the Douro, decanted in bottles / recolha de solos do Douro decantados em garrafa
    Now in presentation in Porto, in the future City History Museum, the exhibition that recently returned from Bordeaux "La Cité du Vin" that invites visitors to "discover the historical richness and the singularity of the heritage" in the North of Portugal, and presents "an organic and anthropologically attentive insight into the landsacpe of Douro - a gathering of water, rock, scent and civilization".

    The exhibition accompanying texts, welll worth reading:

    "The Douro is the land of Port wine. These sun-drenched shale slopes, stretching form the foothills of Marão and Montemuro to the stony heights of Mazouco and the border valley of Águeda, produce the best wine in the world, the result of a stubborn struggle waged by the people of the Douro, pitting body and soul against the hostile forces of nature. They cleared the forest and the wild beasts from the mountains. They ground the shale to dust and carved out kilomoters and kilometers of terraces to fill with hanging gardens of grape. They endured the fury of a violent river, with deep channels, cascades, and rushing torrents, sweeping away houses and wineries, vineyards and vegetable gardens from its banks in its great floods. In summer, they shivered through the malarial fevers that sprang from the dry riverbed. In winter, they donned their straw hats and stood firmly in their vineyards through the hail and rain. And to create this wine, they left chestnut fields, flax beds, cornfields, vegetable gardens and orchards...".

     Fernando de Sousa e Gaspar Martins Pereira.




    "Douro is the name of a river, but its a name that extends beyond its banks to become the apellation given to an entire region. For approximately 100 kilometers - from Barca d'Alva, at the spanish border, all the way to Barqueiros, near Porto, where it flows out to the ocean - Douro is both a river and a land. Flowing down from Zamora to Barqueiros, the river does not impose upon the space through which it passes.
    Here, the Douro, with its long course (nearly 900kms in length) becomes both the name given to a confluence of water, stones, plants, animals and people, and the cornerstone of that confluence, at both its beginning and its end.

    Air, fire, earth and water achieve a balance here that is propicious to that highly prized plant life whose fermentation produces the exquisite and internationally renowned wine known as Port.

    Many have attempted to reproduce this wine, with its complex manufacturing and aging process, in other lands, both in the country and abroad. Such attempts have met with no success.

    Beyond the fortification process, and the aging in selected oak casks, stored in cellars along the southern banks of the Douro's mouth, the place where the vines grow is a crucial factor: soil, topography, climate. This is terroir made entirely by hand. These terraces did not always exist; the rocky crags had to be broken down, the schist rock of the monolithic cliffs that once rose from the most sunbacked riverbanks taken apart.

    At the opposite end of the spectrum, nearly everywhere in the world, it is the production of natural and biodynamic wines that is now driving the wine experiences of the future. The idea is to give the wines made in a place its distinctive characteristics - the vines, the climate, the soil - applying techniques and containers that do not eclipse its distinctive forms, and instead allow th vines to grow and find their own way.
     This means thinking about wine in a human way, as a living, permeable, changing thing, so that through the wine one can perceive the soil, the climate, the varietals, the year and even the bottle.

    It is a different paradigm, one that emerges from an urgent need to rethink the world we inhabit; these are experiences of an intensified relationship between human beings and the soil.

    This exhibition is thus and aminist (e)vocation of the region, one that conjures up the voices of the people, the songs of the birds, the metallic tonality of the shale, the rushing of the waters and the blowing of the wind.

    First and foremost, it is a performative experience, one that can be seen as a composition; it is an exhibition that spans over time, one that articulates and brings together both ancient and contemporary sounds, testimonials, voices from the beyond and vision from the past projected into the present. In the bird's eye rendering, it constitutes a kind of landscape of sound.

    In turn, the soil, the earth, the raw material aspects have been worked and brought to the table by Skrey architecture studio, located in Porto, and the wine maker and producer Mateus Nicolau de Almeida, who have developed a continuing and fruitful collaboration in the Douro region, in Vila Nova de Foz Côa, based around the creation of places where wine is held sacred. Together, they give us a panorama of this collective quest, this probing of the region's secrets, where, following in the auspicious tradition of the Cistercian monks, a dialogue is held between the knowledge of the past and experimentation.":

    Eglantina Monteiro e Nuno Faria, the exhibition curators.

©hsm


"Douro [DWR] 3 solos entre o céu e a terra"

    Agora apresentada no Porto, no futuro espaço do Museu de História da Cidade, a exposição que regressou recentemente da "La Cité du Vin", em Bordéus, e que convida os visitantes a descobrir "a riqueza histórica e a qualidade do património" existente no Norte de Portugal e apresenta uma "visão orgânica e antropológicamente atenta à paisagem do Douro - num encontro de água, rocha, aromas e civilização.".

     Os textos que acompanham a exposição e que merecem uma leitura:

    "O Douro é a terra do vinho do Porto. Nestas encostas soalheiras de xisto, dos contrafortes do Marão e Montemuro às alturas pedregosas do Mazouco e ao vale fronteiriço do Águeda, produz-se o melhor vinho do mundo, resultado de uma luta teimosa em que o homem do Douro investiu o corpo e a alma contra a natureza hostil. Das serras expulsou a floresta e os animais bravios. Do xisto fez pó e socalcos, quilómetros e quilómetros de vinha em jardins suspensos. Aguentou a fúria de um rio violento, de poços, galeiras e torrentes, a varrer das margens casas e adegas, vinhas e hortas nas cheias grandes. No Verão, tremeu de febres palustres, que subiam do leito seco do rio. No Inverno, vestiu a croça e aguentou as codas e a chuva, pé firme na vinha. Para criar este vinho deixou soutos, linhares e searas, e hortas e pomares...".
  
    Fernando de Sousa e Gaspar Martins Pereira

    "O Douro é nome de rio que transborda para as margens, tornando-se também nome de uma região. São cerca de 100km - entre Barca d'Alva, na fronteira com Espanha, até Barqueiros, quase a desaguar no Porto - em que o Douro é água e terra. A jusante de Zamora e de Barqueiros, o rio não se impõe no espaço que atravessa.
     Do seu longo curso (cerca de 900km) é aqui que o Douro é nome de um encontro de água, pedras, plantas, animais e pessoas, e a chave por trás da qual este encontro pela primeira vez e também a última se dá.

    O ar, o fogo, a terra e a água atingem aqui um ponto de equilíbrio de onde nasce uma forma de vida vegetal irrepetível, cuja fermentação converte no nobre e internacional Vinho do Porto.

    Sendo um vinho que passa por um complexo processo de fabricação e envelhecimento foram muitos os que dentro e fora do país tentaram produzi-lo noutras paragens. Sem sucesso.

    Apesar da aguardentização, do envelhecimento em cascos de madeira seleccionados, estágios nas caves da margem sul da foz do Douro, o lugar onde as vinhas crescem é decisivo: solo, topografia, clima. Um "terroir" feito à mão. Os socalcos não existiam, foi preciso rebentar as fragas, desfazer as pedras xistosas das pedras tumulares que se levantavam nas margens mais expostas ao sol.

    Na polaridade oposta e um pouco por todo o mundo, hoje é a produção dos vinhos naturais e biodinâmicos que comanda as experiências vínicas futurantes. A ideia é fazer com que o vinho seja a marca original de um sítio: vinho, clima, solo, aplicando técnicas e contentores que não escondam as formas originais, e permitam que os vinhos evoluam e encontrem o seu próprio caminho.
    Isto significa pensar o vinho de uma forma humana, como uma coisa viva, permeável, em mutação, de molde a através do vinho se percepcione a terra, o clima, as cepas, o ano e até mesmo a garrafa.

    É um outro paradigma que emerge da urgência de repensarmos o mundo que habitamos, são experiências de intensificação da relação dos homens com a terra.

    Por isso, esta exposição é uma (e)vocação animista da região, que convoca a voz dos homens, o canto das aves, o som metálico do xisto, o correr das águas e o sopro do vento.

    Em primeira instância, é uma experiência performativa que pode ser entendida como uma composição: trata-se de uma exposição que tem uma duração - articula, faz coabitar sons antigos e contemporâneos, depoimentos ouvidos, vozes do além e visões do passado projectadas no presente. É, na sua versão aérea, uma paisagem sonora.

    Em contraponto, a terra, o chão, a matéria é trabalhada e trazida pelo atelier de arquitectura Skrei, sedeado no Porto, e o enólogo e produtor Mateus Nicolau de Almeida, que desenvolvem uma continuada e profícua colaboração na região do Douro, em Vila Nova de Foz Côa, em torno da criação de lugares de culto do vinho. Juntos, oferecem-nos um panorama dessa demanda conjunta, desse inquérito aos segredos da região, na qual, sob a auspiciosa tradição dos monges cistercienses, dialogam conhecimento do passado e experimentação.".

    Eglantina Monteiro e Nuno Faria, os curadores da exposição.



Skrei, "Rocha-mãe", 2018: samples of stones representing the lithologies of Douro demarcated region / amostras de recolhas representativas de litologias da região demarcada do Douro.


©hsm

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