quinta-feira, 18 de maio de 2023

Van Zellers & Co. and "The importance of time in Port wine"

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    Some brief notes and photos of the thematic tasting session presented by Cristiano Van Zeller, Van Zellers & Co. producer and winemaker, who represents the 14th generation of the family that has a centenary connection to the Port wine trade and the Douro wine region.

    Cristiano Van Zeller selected from the Van Zellers & Co. Port wine warehouse in São João da Pesqueira, a set of 7 wine samples representing different stages of the Port wine evolution over time ageing in wood, with the particularity of only two being wines that are already completed and bottled, the remaining five are wines still in evolution and not concluded of finished, presented as follows:

- The 1st sample: a wine from the last and most recent 2022 harvest

- 2nd sample: the Van Zellers & Co. 2017 Vintage Port

- 3rd sample: also a 2017 harvest wine, which was kept in casks

- 4th sample: a 2007 Port wine (aged in wood)

- 5th sample: a 2000 Port wine (aged in wood)

- 6th sample: Van zellers & Co. 30 years old Tawny Port

- 7th sample: an aged very old Tawny Port wine almost 60 years old.

    Wines 1,2 and 3 are still new in Port wine parameters.

    The 1st is a very recent raw wine. It is a new vintage, rich, full, concentrated with the maximum possible concentration, that has fresh intense fruit, black fruit, which also reappears in the 2017 Vintage Port. From the monitoring of the wines that has been carried out since the harvest and after vinification, it can be concluded that 2022 will not be a vintage Port year at Van Zellers & Co.

    The 3rd wine (from the 2017 harvest) was kept in casks, in old Port wine barrels, where it spent a year. At this moment it smells of wood, which will eventually pass over the years, it alredy has nuances of oxidation, there is some loss of fresh fruit and floral aromas, but no dried fruits yet.

    The 4th (2007 harvest) and 5th (2000 harvest) always aged in large barrels with the same process - in the present there is a big difference between the two, there is a noticeable color evolution, which decreases in intensity, the red tones begin to disappear - the 2007 still retains some hints of primary fresh fruit in the aromas and flavor - the 2000 no longer has any of that, it begins to change its profile, the more golden tones definitely beggin to appear and then the aromatic impressions of pulp fruit jam - there have been almost 10 years of evolution. 2007 and 2000 were two yerars of classic vintage Port, they are very concentrated and powerful wines that are characteristic of that time, it is difficult to age structured wines like the ones from these harvests.

Then we enter the world of the Tawny Port wines with longer ageing in wood casks - the 6th wine, Van Zellers & Co. 30 years old Tawny - in which more gradual and intense contact with oxygen over longer periods of time, the oxidative ageing and evaporation which in addition to representing a decrease in the physical wine volume (a loss of water and alcohol at an approximate average rate of 2% per year, depending on ageing conditions), led to a concentration of sugars and increased acidity. The wine gains aromatic complexity and very particular aromas appear (from tertiary evolution), dried fruits much more evident, honey (and toffee) and spices. Aromatic notes that become accentuated and intensified with the longer ageing in wood.

     In general, in the universe of tawny Port wines, the oldest tawnies, aged between 30 to 40 years old and the very old ones, originate from the Baixo-Corgo Douro sub-region, which had excellent characteristics (produced less concentrated and fresher wines) for producing aged Port wine.

    The 7th wine is almost 60 years old. There is a huge difference in the natural evolution of color that starts to darken and the aromas are completely transformed. It has a brownish-golden color where the greenish hues typical of very old Port wines now appear. It is more intense and concentrated, denser too, with great aromatic and taste complexity, aromas of orange peel and orange blossom, caramel, tabacco leaf and spices.

    These ageing periodos in wood and the evolution of the wines are always closely monitored and the wines are tasted frequently to ensure the desired balance and consistency and the necessary adjustments are made to the volume of the barrels, to refresh the wines and correct it with small additions to balance alcohol evaporation and preserve freshness.

    Another curiosity, at Van Zellers & Co., Port wines, after a certain period of ageing in wood casks, when, according to the intended criterion, they have oxidized enough, go to stainless steel containers that are not completely filled (around 2/3), thus avoiding further loss of alcohol and water, preserving the wine from unnecessary evaporation. Then they are bottled according to orders.

    Here the rule is time, time to make these wines, from 1 to 7 a range of wines in which we can clearly see the differences that time imprints, examples of the "luxury of time" (in the expression of Dirk Niepoort).

    "Time in Port wine is a different time in which the perspective is different there is no short term, there is a continuity that is not palpable, the perception of time and the notion of time that one has in moments of transformation is not evident. The notion of time in still wines is more obvious, in Port wine it is not controllable. Port wines, over time, transform in such a way that there are permanent surprises, it is a time that largely surpasses us, a finite and infinite time at the same time. Ageing wines long enough in infinite diversity.".

    And, in Port wine, time always favors what we have in the glass.

(4th May 2023, The Wine School, WoW, Vila Nova de Gaia)


Van Zellers & Co. e "A importância do tempo no vinho do Porto"

    Os breves apontamentos da prova temática apresentada por Cristiano van Zeller, produtor e enólogo, que representa a 14.ª geração da família Van Zeller e a ligação centenária ao negócio do vinho do Porto e à região do Douro.

    Cristiano Van Zeller seleccionou no armazém de vinhos do Porto da Van Zellers & Co. em São João da Pesqueira, um conjunto de 7 amostras de vinhos, representativas das fases de evolução do vinho do Porto com o tempo e o envelhecimento em madeira, com a particularidade de apenas dois serem vinhos já completos e engarrafados, os restantes cinco, são vinhos ainda em evolução, não concluídos ou terminados, assim apresentados:

- A 1.ª amostra: um vinho recentíssimo da última vindima de 2022

- 2.ª amostra: Van Zellers & Co. 2017 Porto Vintage

- 3.ª amostra: um vinho também da colheita de 2017, que foi mantido em casco

- 4.ª amostra: um vinho do Porto de 2007 (envelhece em madeira)

- 5.ª amostra: um vinho do Porto de 2000 (envelhece em madeira)

- 6.ª amostra: Van Zellers & Co. 30 anos Tawny

- 7.ª amostra: vinho do Porto Tawny muito velho com quase 60 anos.

    Os vinhos 1,2 e 3 são ainda novos nos parâmetros do vinho do Porto.

    O 1.º vinho é um vinho cru, ainda muito recente. É um vintage novo, rico, cheio, concentrado, nesta fase com o máximo da concentração possível, com frurta fresca, intensa, fruta preta, que volta a surgir também no Vintage 2017. Do acompanhamento dos vinhos desta colheita, que são realizados desde a vindima e após a vinificação, pode-se concluír desde já que 2022 não será um ano de Porto vintage na Van Zellers & Co..

    O 3.º vinho (da colheita de 2017) foi mantido em casco, em pipas velhas de vinho do Porto, onde passou um ano. Neste momento cheira a madeira, que depois acabará por passar com os anos, apresenta já nuances de oxidação, dá-se alguma perda das notas de frura fresca e florais, mas não surgem ainda os aromas de frutos secos. 

    4.º (colheita de 2007) e 5.º (da colheita de 2000), envelhecidos sempre em pipas grandes com o mesmo processo - neste momento há uma diferença muito grande entre os dois, há uma evolução notória da côr, que dimuniu de intensidade, os tons vermelhos começam a desaparecer - o 2000 já não tem nada disso, começa a mudar de perfil, começam definitivamente a surgir os tons mais alourados e depois impressões aromáticas de doce de frutas de polpa - houve quase 10 anos de evolução. 2007 e 2000 foram dois anos de Porto vintage clássico, que originou vinhos muito concentrados, muito poderosos e estes vinhos são característicos desse tempo, é difícil envelhecer vinhos estruturados como são os vinhos destas colheitas.

    Depois entramos no mundo dos vinhos do Porto Tawny com mais tempo de evolução em madeira, com o 6.º vinho, o Van Zellers & Co. 30 anos Tawny, em que o contacto mais gradual e intenso com o oxigénio, durante longos períodos de tempo, o envelhecimento oxidativo e a evaporação que, para além de representar uma diminuição do volume físico do vinho (uma perda de água e álcool a um ritmo aproximado de 2% ao ano, dependendo das condições de envelhecimento), levou a uma concentração de açúcares e ao aumento da acidez. O vinho ganhou complexidade aromática, surgem aromas muito particulares (da evolução terciária), de frutos secos bastante mais evidentes, mel (e toffee) e especiarias. Notas aromáticas que se vão acentuando e intensificando com os estágios mais longos em madeira.

    Em geral, no universo do vinho do Porto, todos os tawnies mais antigos, com 30 a 40 anos e os muito antigos, têm origem na sub-região do Baixo-Corgo, que tinha excelentes características para produzir vinhos do Porto para envelhecer (produzia vinhos menos concentrados e mais frescos).

    O 7.º vinho tem quase 60 anos. Há uma enorme diferença na evolução natural da côr do 6.º para o 7.º vinho, a côr começa a escurecer e os aromas transformam-se completamente. Com uma côr dourada acastanhada onde surgem agora laivos esverdeaddos típicos dos vinhos do Porto muito velhos. É mais intenso e concentrado, mais denso também, com grande complexidade aromática e gustativa, com aromas de casca de laranja e flôr de laranjeira, caramelo, folha de tabaco e especiarias.

    Estes estágios em madeira e a evolução dos vinhos é sempre acompanhada com grande proximidade e os vinhos são provados com frequência para assegurar o equílibrio e a consistência pretendidos e são feitos os ajustes necessários ao volume das barricas, os vinhos são refrescados e corrigidos com pequenas adições para equilibrar as evaporações do álcool e preservar a frescura.

    Outra curiosidade, na Van Zellers & Co., os vinhos do Porto, a partir de um determinado período de envelhecimento em barricas, quando de acordo com o critério pretendido, já oxidaram o suficiente, são transferidos para contentores de inox que não são completamente cheios (até cerca de 2/3), evitando-se assim mais perdas de água e álcool preservando os vinhos de evaporações desnecessárias. Depois são engarrafados de acordo com as encomendas.

    Aqui a regra é o tempo que é necessário para fazer estes vinhos, do 1 ao 7 temos um leque de vinhos nos quais se percebem claramente as diferenças que o tempo imprime e que são expressão do "luxo do tempo" (na expressão de Dirk Niepoort).

    "O tempo no vinho do Porto é um tempo diferente em que a perspectiva é diferente, não há curto prazo, há uma continuidade que não é palpável, não é clara a percepção e a noção do tempo que se tem nos momentos de transformação. A noção do tempo no vinho é mais palpável, no vinho do Porto não é controlável. Os vinhos do Porto, com o tempo, transformam-se de tal maneira que há surpresas permanentes, é um tempo que nos ultrapassa largamente, um tempo finito e infinito ao mesmo tempo. Envelhecer os vinhos com o tempo suficiente numa diversidade infinita.".

    E, no vinho do Porto, o tempo favorece o que temos no copo.

(4 de Maio 2023, The Wine School, WoW, Vila Nova de Gaia)

© Hugo Sousa Machado

 

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