sábado, 20 de setembro de 2014

O extraordinário país do vinho

    O nosso tesouro


    Penso não ser exagero afirmar, que não há no mundo outro país com a nossa reduzida dimensão geográfica (continental e insular) e com regiões vitivinícolas tão variadas e distintas entre si, com uma enorme diversidade concentrada num pequeno território.

    Esta variedade de características em cada região e sub-região - solos e microclimas próprios - dão origem a especificidades nas castas plantadas e nos vinhos produzidos. Vinhos tão diferentes, de região para região, originais e autênticos, sejam tranquilos ou fortificados.

    Acrescente-se a quantidade, multiplicidade e exotismo das nossas castas autóctones - estão actualmente identificadas cerca de 250 castas, número que, no entanto, não é definitivo, uma vez que a Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID), está empenhada no processo de identificação e protecção da biodiversidade de castas, em curso, e com toda a certeza o número de castas identificadas aumentará no futuro - na sua grande maioria pouco ou mesmo nada exploradas e das quais pouco ou nada se sabe.

    Ainda, um país com a excentricidade de combinações de castas variadas - os chamados "vinhos de lote" ou ainda a "magia do lote" - uma prática comum e habitual entre nós na produção de vinhos, desde sempre, que constitui um factor estranho a todos os outros países produtores de vinho (do velho e do novo mundo).

    Todas estas combinações originam vinhos que certamente variam de região para região (ou de sub-região para sub-região), mas também de produtor para produtor. Podemos mesmo considerar que o conjunto de castas que compõem um lote podem variar, considerando o mesmo produtor ou enólogo, de um ano para o outro.

    Outro elemento único e diferenciador é o das "vinhas velhas", com várias castas misturadas (inclusive castas tintas e brancas), numa mesma parcela ou lote de terreno (e é normal existirem nestas vinhas mais de 35 variedades plantadas), geralmente, com idades superiores a 60, 70 anos ou mais, com produções muito baixas, mas com uma maior concentração de todos os elementos da uva.

   É este conjunto de elementos, que constitui uma riqueza única, que devemos sentir como nossa e como um património a defender e valorizar, num mundo ainda dominado pela concepção monótona, redutora e uniforme, dos vinhos iguais, produzidos com as mesmas sacrossantas castas internacionais; cabernet sauvignon, chardonnay e sauvignon blanc e pouco mais, num estilo único, internacional, independentemente do país ou região produtora, desconsiderando as expressões diferenciadoras que estão na origem da autenticidade das regiões e dos vinhos (o "terroir"). 
    Este gosto estabelecido, que leva à rejeição de tudo o que sai fora da norma, promove também a ignorância, uma vez que o princípio orientador de escolha de vinhos pela casta é limitado e redutor e não promove o contexto do vinho, o que está na sua origem, para além da uva.

    O que defendemos aqui, é precisamente o oposto, isto é, uma visão abrangente, que não despreze os valores que são indissociáveis do vinho e indispensáveis para a sua compreensão e melhor apreciação: as especificidades de cada região, os solos, as diferentes altitudes e a exposição dos terrenos, o clima, o contexto histórico, patrimonial, cultural e social e mesmo a personalidade e idiossincrasias do prórpio produtor ou enólogo.

© HSM

     

Douro Superior sub-region: The road N222-4 leading to Quinta do Vesúvio. On the back center, the Quinta Senhora da Ribeira (Dow´s).  © HSM archives