segunda-feira, 3 de novembro de 2014

# Douro: o relatótio da vindima de 2014

Quinta do Noval: the characteristic white marked terraces that stand out in the Pinhão river valley landscape  © HSM archives 


     Concluída a vindima de 2014 na região do Douro, sem dúvida que a principal característica e a marca determinante que condicionou todo o ano vitícola de 2013-2014, foi a grande instabilidade climática, que esteve na origem de um ano atípico.
     O tempo manteve-se instável durante todo o ano e até ao início do verão e depois, mais tarde, também após o início da vindima.

      Esta grande instabilidade traduziu-se, principalmente, na elevada precipitação registada ao longo de todo o ano, com um Inverno muito chuvoso, sobretudo entre os meses de Dezembro a Fevereiro.

       Depois, no início de Julho, voltou a chover intensamente mas sem que, no entanto, as vinhas fossem atingidas.
      Mais tarde, apareceu a chuva tardia de meados do mês de Setembro, que durou quase duas semanas, prolongando-se quase até ao início de Outubro, atingindo a região em plena vindima, condicionando-a (nesta altura crítica, a chuva tem como consequência a diminuição da concentração de açucares das uvas e do teor de álcool provável).
     Por fim, a 8 de Outubro, outra chuvada atinge a região e todos os que ainda vindimavam.

     Temos ainda que considerar neste ponto, que a evolução da temperatura não foi constante; como exemplo, o mês de Janeiro foi mais quente e o mês de Agosto mais fresco, com temperaturas mais baixas do que o habitual.

      Como consequência desta instabilidade, as principais castas evoluiriam em ritmos muito diferentes; a tinta roriz foi a primeira a amadurecer e a touriga franca, com bastante qualidade, a última (com boa qualidade estavam também as uvas da casta touriga nacional e da casta sousão).

      Contudo, refira-se que, apesar da atipicidade do ano e das condicionantes descritas, o acompanhamento das maturações e os controlos realizados na vinha, determinaram que a vindima tivesse início, na maioria dos casos, na primeira semana de Setembro (em 2014 a maturação deu-se mais cedo do que no ano anterior).
     Na realidade, até esta data, entre a primeira e segunda semana de Setembro, a colheita parecia promissora, em muitos casos as uvas estavam em muito boas condições e perfeitas para bons vinhos do Porto e Douro.
        
    Assinala-se também a quebra na  produção de vinho em toda a região, atingindo aproximadamente 10% e em alguns produtores percentagens mais elevadas, como é o caso da Niepoort, na Quinta de Nápoles, em que houve uma quebra de 20% na produção.

      Sublinhamos, todavia, que todas as vicissitudes assinaladas são gerais, precisamente porque a região do Douro quando analisada mais em detalhe, possuí sempre uma enorme heterogeneidade de situações, quer entre as sub-regiões, quer entre a localização geográfica dos terrenos, quer entre as diferentes quotas, que escapam sempre a uma análise geral
     Explicando melhor, concerteza que a sub-região do Baixo Corgo foi mais atingida e sofreu mais as consequências da elevada precipitação do que a sub-região do Douro Superior (em que os índices de precipitação são sempre baixissímos). De facto, as variações de precipitação entre as diferentes zonas foram grandes: o Baixo Corgo, mais atingido pela chuva, teve uma vindima muito difícil, no Cima Corgo, houve zonas com uma excelente vindima e outras que nem tanto. No Douro Superior e em todas as zonas que não foram afectadas pela chuva (o que abrange todos quantos vindimaram antes da chuva de Setembro), vai dar origem a vinhos de muito boa qualidade.
     Poderá também ser um bom ano para os vinhos brancos, vinhos mais frescos, que beneficiaram mais com os condições do ano vitícola.

       Em conclusão, foi um ano atípico que não foi dos melhores, muito pelo contrário, foi um ano muito difícil, mas numa região tão diversa e tão rica como o Douro, haverá sempre vinhos excepcionais,nas vinhas que escaparam aos efeitos da chuva, mas também nos produtores com propriedades localizadas em diferentes zonas e que por isso, têm a capacidade de escolher as melhores uvas para os lotes que compõem os vinhos e também parta quem tirou proveito das vindimas manuais, que permitem uma selecção imediata das uvas pelos vindimadores.

      Com toda a probabilidade 2014 não será um ano vintage clássico.


© HSM
            

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