segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Douro, 2023 harvest: the producer's review.

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On the right, Quinta de Roriz, and on the background on the other riverbank, Quinta da Romaneira.

The word to the producer... the revelant comments and the personal experience of a Douro producer, essential to begin trying to fully understand the wine year that just ended, as well as the reality and the problems that the Douro currently faces.

     This year's lucid and current testimony of Alexandre Antas Botelho (traditional Douro wine producer, Director of Porto Dos Santos and partner of Noble & Murat):

    "Regarding this year, the word that comes to mind is "challenging". 

     The year promised quality, because the rain during the year was beneficial for the vines and the grapes were promising. With good conditions for the vine and grapes development, the heat began to increase at the end of August, promising to anticipate the harvest.

    In this sense, I was closely monitoring the grape maturation that gave rise to the 2023 Port wines, trying to obtain the sugar and pH ratio that defines the house style, until, in the first week of September the weather became uncertain and even rainy.

    As the weather continued to deteriorate, bringing a lot of uncertainty and the grapes in the vineyards already being at an optimal point for the desired wines, not justifying taking any additional risks, I decided to move forward with the "Dos Santos" vinifications, making them all in the beginning of September while the spacing between the first rains allowed the grapes to enter the winery in perfect conditions.

    From then on, the climate continued to greatly deteriorate, with almost daily thunderstorms and very heavy rain, something that did not contribute to an excellent wine year in the Douro. It was only towards the end pof September that the weather improved again, but at that time I was only doing wine cellar work and I have no reference to the wines made at that time. 

    As for "Dos Santos" wines this year, they have freshness anda pronouced minerality, a lot of aromatic intensity and good structure, in a year that, in our case, mainly marked by elegance.

    Other points to take into account this year that left an indelible mark:

  • A significant reduction in the "benefício" in a difficult agricultural year with an high production, led to the price of a 750kg barrel of grapes (which is equivalent to 550 liters of wine) reaching miserable prices well below the farmer's survival threshold. I contacted many people who almost literally offered their grapes to the wineries.
  • Many farmers left the grapes in the wineries without knowing the price they would receive. Only at the beginning of January will they know the price that will actually be paid for the grapes they delivered.
  • The "benefício" available for transforming musts into Port wine quickly disappeared and what was available naturally reached high prices.
  • There were producers who took advantage of excess production to make cheaper Port wine, the increase in card prices (the benefício card) was offset by low price at which the grapes arrived at the wineries.
  • The lack of manpower in the Douro will continue to be a critical issue. Large companies now choose to bring in as much manpower as possible, many of them from outside Europe. As was the case in other areas of the country.
  • When more and more large economic groups invest in the Douro, this takes a long time to be reflected locally and socially on the region.
    The financial return (and always has been) with Port and Douro wines attracts investors (it is assumed that the activity is profitable and economically interesting), it cannot bring better wages, more jobs to the region, better conditions, it cannot retain the young populations of the region, who continue to emigrate and have to leave to the city (and I personaly know many of these cases, who would have preferred to stay in their lands).
    This economic activity is not contributing as desired to the region's recognition. The economic and tourist models that exist have almost no connection with the local population (e.g.: a tourist can go to the Douro for carpaccio and focaccia for lunch, but it is difficult to eat typical food from the region; the tourism model that abounds in Douro, i.e., the black boats and vans operate in a closed circuit, very little of the tourist's money reaches the real Douro).
    Existing economic models are very "british" and extractive."


Douro, a vindima 2023: os comentários do produtor.
 
    A palavra ao produtor... os comentários e as reflexões pertinentes, a experiência pessoal dum produtor do Douro, indispensáveis para compreender melhor, não só o ano vitícola que agora termina, mas também a realidade e os problemas que a região enfrenta actualmente.
    O testemunho lúcido e actual de Alexandre Antas Botelho, produtor tradicional do Douro, Director da Porto Dos Santos e sócio da Noble & Murat:  
 
    "Relativamente a este ano, a palavra que me vem à cabeça é "desafiante". 
 
     O ano prometia qualidade, porque as chuvas durante o ano foram benéficas para a videira e as uvas prometiam.
    Com as boas condições para o desenvolvimento da videira e das uvas, o calor começou a apertar no final de Agosto, prometendo antecipar as vindimas. 
 
    Nesse sentido, estava a acompanhar atentamente a maturação das uvas que deram origem aos Portos de 2023, procurando obter o rácio de açúcar e pH que define o estilo da casa, na primeira semana de Setembro o tempo começou a ficar incerto, vindo mesmo a chover.
    Com o tempo a continuar a deteriorar-se, trazendo muita incerteza e as uvas nas vinhas estando já num ponto óptimo para os vinhos pretendidos, não se justificando correr quaisquer riscos adicionais, decidi avançar com as vinificações da "Dos Santos", fazendo-as todas no início de Setembro, enquanto os espaçamentos entre as primeiras chuvas permitiram a entrada na adega de uvas em perfeitas condições.

    A partir daí o clima continuou a deteriorar-se muito, com trovoadas quase diárias e chuvas muito fortes, algo que não contribuiu para um ano vinícola de eleição no Douro. Apenas para os finais de Setembro é que o clima voltou a melhorar, mas nessa aí só estava a fazer trabalho de adega e não tenho referência dos vinhos feitos nessa altura.

    Quanto aos vinhos da "Dos Santos" neste ano, têm frescura e uma mineralidade acentuada, muita intensidade aromática e boa estrutura, numa ano que, no nosso caso, é mais marcado pela elegência.

    Outros pontos a ter em conta que marcaram este ano de forma indelével:
  • Uma baixa significativa do benefício num ano agrícola difícil e de elevada produção levou a que o preço da pipa de uvas 750kg. (o que equivale a 550 litros de vinho) chegasse a preços miseráveis, muito abaixo do limiar de sobrevivência do lavrador. Tendo eu contactado com muta gente que quase literalmente ofereceu as uvas às adegas.
  • Muitos lavradores deixaram as uvas nas adegas sem saberem o preço. Só no início de Janeiro é que saberão o preço que efectivamente lhes será pago pela vindima.
  • O benefício disponível para a transformação dos mostos em vinho do Porto desapareceu rapidamente, e aquele que estava disponível atingiu naturalmente preços altos.
  • Houve produtores que aproveitaram o excesso de produção para fazer vinho do Porto mais barato, a subida do preço do cartão (o cartão do benefício) foi compensdada pelo preço baixo a que as uvas chegaram às adegas.
  •  A falta de mão de obra no Douro continuará a ser uma questão crítica. As grandes empresas optam agora por trazer a mão de obra possível, muitos deles de fora da Europa. Como de resto já se verificava em outras zonas do país necessitadas de mão de obra.
  • Quando cada vez mais grandes grupos económicos investem no Douro, tal tarda a reflectir-se no tecido social da região.
  • O dinheiro que é feito (e sempre foi) com os vinhos do Porto e Douro atrai investidores (pressupõe-se que a actividade é rentável e economicamente interessante), não consegue é trazer melhores salários, mais emprego à região, melhores condições, não consegue reter as populações jovens da região, que continuam a emigrar e a ter que partir para a cidade (e conheço pessoalmente muitos destes casos, que teriam preferido ficar nas suas terras).

    Esta actividade económica não está a contribuir como seria desejado para a valorização da região. Os modelos económicos e de turismo que existem quase não têm ligação com a população local, (por exp., um turista pode ir ao Douro almoçar carpaccio e focaccia, mas é difícil comer comida típica da região; o modelo de turismo que abunda no Douro, i.e., barcos e carrinhas pretas que funcionam em circuito fechado, muito pouco do dinheiro dos turistas chega ao Douro real).

    Os modelos económicos existentes são muito "britânicos" e extracionistas."


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