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Quinta do Bragão, Celeirós do Douro: a adega da Noble & Murat. |
O mais recente produtor de vinho do Porto, mas apenas aparentemente ou formalmente. Existe uma experiência, um conhecimento e uma ligação de muitos anos à viticultura, à produção de vinhos e ao Douro que são determinantes para a qualidade dos vinhos produzidos, como já demos conta em publicação anterior (Noble & Murat, an historical Port wine brand reborn).
Há um compromisso assumido e evidente com a produção de vinhos do Porto de categorias especiais de qualidade superior, vinhos naturais, autênticos, sem artifícios, com identidade e carácter, vinhos do Porto sérios, cuja consistência o futuro certamente assegurará.
O coração dos vinhos do Porto da Noble & Murat
A adega da Noble & Murat localiza-se na Quinta do Bragão, no limite de Celeirós do Douro, em pleno vale do Pinhão, na margem direita do rio (daqui avista-se a Quinta do Fojo, a Quinta do Passadouro, a Quinta da Manoella, a Quinta do Silval e mais ao longe a Quinta do Noval). Uma adega com um ambiente típico e o raro charme que é uma das expressões das adegas tradicionais do Douro.
É aqui, no vale deste rio, que as famílias de Alexandre Antas Botelho e António Borges Taveira, os sócios da Noble & Murat, têm as suas raízes e uma longa tradição de séculos, desde o século XVI, de produção, comercialização e exportação de vinho. Podemos dizer com propriedade, que o Douro está na alma desta casa e se reflecte nos vinhos do Porto que produz. Um projecto intimamente ligado às raízes vitivinícolas do Douro.
É importante ter presente que, no Douro, a produção vitícola é realizada, fundamentalmente, através de duas formas, por um lado as quintas e por outro as vinhas ou parcelas de vinha isoladas. Consideremos que, com excepção dos grandes produtores, proprietários de várias quintas no Douro, quem explora uma quinta conta com as vinhas e uvas dessa produção, com características próprias mas, apesar de tudo, com uma menor margem de escolha em diversidade do que aqueles produtores que têm à sua disposição vinhas com diferentes localizações, com particularidades distintas, com vinhas velhas e outras vinhas com diferentes idades e variedades de castas, localizadas a altitudes, em condições climáticas e com exposições solares diversas. Todos estes factores, antes de mais, permitem ao produtor maiores possibilidades e variedade de escolha e vão conferir uma maior riqueza, complexidade e longevidade aos vinhos, como perceberemos ao longo deste texto.
A Noble & Murat produz vinho do Porto com base em 6 vinhas, 3 das quais são propriedade dos sócios da firma, com localizações privilegiadas e diversas no vale do Pinhão e no vale do Tedo (sub-região do Cima Corgo), com um intenso trabalho de campo para acompanhamento e controlo constante.
O processo de vinificação e produção é tradicional e inteiramente manual, entendido e assumido como o método que mais respeita as uvas e o terroir.
Após a escolha e selecção, as uvas são vinificadas separadamente, num processo de vinificação "à antiga", com algumas particularidades importantes e dignas de destaque, para compreendermos não só os vinhos, mas também a filosofia deste produtor.
Como dissemos, o produto das vinhas é vinificado em separado, com o recurso exclusivo à pisa a pé, em pequenos lagares com lajes de xisto e granito, com um elevado rácio homem por pipa no lagar, o que acaba por ter uma enorme influência no vinho. Para percebermos melhor a raridade e sentido deste processo, num lagar com uma dimensão aproximada de 5 x 5m, as uvas são pisadas por cerca de 24 a 26 pessoas e nos lagares mais pequenos, com uma dimensão aproximada de 2,5 x 3m por cerca de 15 pessoas. Mais do que uma equipa, uma família que todos os anos faz este trabalho em conjunto.
As uvas são vinificadas com o engaço, o que envolve mais trabalho, mas que é um método decisivo para a qualidade final e carácter destes vinhos. A fermentação com engaço permite a absorção do calor e contribuí para o controlo da temperatura durante a fermentação e ajuda ao arejamento das leveduras nativas, conferindo o chamado "tanino verde", a acidez do engaço vai traduzir-se em tanino e aroma e é um factor fundamental para a longevidade dos vinhos. Há também muito trabalho manual nesta fase, por exemplo, quando a manta sobe é trabalhada manualmente com os tradicionais macacos(1) durante toda a fermentação.
Mais uma das especificidades do processo de vinificação aqui praticado, está na qualidade da prensagem, com a utilização de uma antiga prensa (uma prensa "FAS" forrada a inox que extraí até à última gota e o engaço sai seco). Os produtores defendem que uma boa prensagem vai conferir a extracção e corpo necessários, que o mesmo é dizer, côr e tanino ao vinho. Um lagar completo será equivalente a cerca de uma prensa e um quarto. Este "vinho de prensa" integra depois o vinho restante saído dos lagares.
Outra das particularidades e que constituí um dos segredos da casa é o procedimento de fortificação do vinho, com a finalidade de obter uma melhor integração e homogeneização da aguardente vínica com o vinho, para conseguir uma maior preservação dos aromas e da estrutura do vinho do Porto.
Após a vinificação separada de cada uma das vinhas, o vinho resultante é mantido individualizado em tonéis, para acompanhamento da sua evolução e qualidade e avaliação do potencial para Porto vintage.
As vinhas, a selecção de uvas e os métodos de vinificação são exactamente os mesmos para os vinhos do Porto Late Bottled Vintage e para os Porto Vintage da casa. Aqui o LBV é de estilo tradicional, não filtrado, mais estruturado e encorpado e é literalmente um vintage engarrafado mais tarde. À saída do lagar é feita uma triagem e o destino do vinho é determinado nesse momento. Naqueles anos em que não é produzido vintage, o vinho é praticamente todo destinado ao LBV da casa.
Algum do vinho produzido em cada ano é também reservado para um envelhecimento mais prolongado em madeira que dará origem a um Tawny colheita (tonel 11) e também algum é conservado para um Tawny de idade.
A composição de um Porto vintage clássico
Compreender os elementos da assemblage de um Porto vintage
Em bom rigor, o vinho do Porto vintage, um vinho de qualidade excepcional, produzido em pequeníssimas quantidades, com as melhores uvas de uma só vindima, num ano de condições perfeitas e que é a suprema expressão do vinho do Porto, num determinado sentido é também um vinho de lote, não no sentido de ser constituído por um lote de vários vinhos com diferentes idades de envelhecimento e com origem em várias colheitas, como é o caso dos Porto tawny com indicação de idade, mas sim um lote de uvas seleccionadas de uma mesma vindima ou colheita e de acordo com o perfil que se pretende obter.
Na Noble & Murat existem 6 lotes que são o resultado de uma selecção de uvas de 6 vinhas, de 6 terroirs com características distintas e muito específicas e com diferentes perfis e é o resultado da prova e avaliação destes 6 elementos que aqui daremos conta.
Tivemos a oportunidade e o gratificante privilégio de provar e conhecer estes vinhos, uma experiência estimulante e que torna mais completa a compreensão da essência de um vinho do Porto vintage.
Os nossos agradecimento a Alexandre Antas Botelho e à Noble & Murat pela abertura a uma prova normalmente apenas acessível a quem está envolvido na produção do vinho da casa.
Passemos então a considerar os elementos que integram a composição do mais recente vintage clássico, o Noble & Murat vintage Port 2016.
Os vinhos são mantidos em cubas e tonéis durante cerca de 2 anos.
O 1.º elemento da cuba 8 (as cubas com uma capacidade de 5000l)
Proveniente de uma vinha muito velha no vale do Tedo. Um vinho em que dominam os aromas primários, com fruta fresca, intensa e evidente, terroso e com muita madurez.
O 2.º elemento, do tonel 7 (os tonéis são de castanho, com capacidades variáveis, entre os 5500l e os 7000l)
Com origem noutra vinha velha do vale do Tedo. Um vinho notoriamente mais ácido e taninoso, com um nariz ainda fechado, onde sobressaí a fruta vermelha.
O 3.º elemento, do tonel 8
Com origem numa vinha de Covas do Douro. É a amostra "cheirante", um vinho muito aromático e muito exuberante, mas com menos estrutura e menos comprimento quando comparado com os vinhos anteriores. Podemos dizer que nesta amostra, para além das notas descritas, faltam as características das amostras anteriores.
O 4.º elemento, do tonel 9
De uma vinha velha no vale do Tedo. É uma amostra mais complexa. Tem como notas principais ser um vinho meio-seco, que inicialmente parece doce mais que depois é cortado por uma secura evidente, um vinho mais equilibrado. Aqui percebe-se o conceito de uma vinha superior, se só houvesse uma quinta, este seria o vintage de quinta, um vinho que vale por si só.
O 5.º elemento, do tonel 10
De uma vinha de vale de Mendiz. É um vinho base, muito completo, com muita côr e muito encorpado, é exuberante, com muito aroma, terroso e com uma boa acidez, um vinho mastigável, impressivo, rugoso, bruto e mais completo, que se destaca também pelo comprimento dos taninos.
O 6.º elemento, da cuba 11
De outra vinha de vale de Mendiz e de uma vinha no vale do Tedo. Esta última com a particularidade de se tratar de uma vinha única de touriga nacional, com origem num clone(2) único desta casta (uma excepção à predominância no Douro do clone de touriga nacional proveniente da Quinta do Ataíde). É um vinho muito floral e exuberante na boca, fino e com pouca acidez.
O resultado final será o Noble & Murat Vintage Port 2016. já aprovado pelo IVDP, no passado mês de Maio, logo após a nossa visita, num ano clássico de Porto vintage. Este vintage tem como notas principais, um nariz exuberante, com aromas florais e também com o caractér da fruta vermelha e preta, com uma excelente estrutura, boa acidez e um final meio-seco. É um vintage mais elgante e aromático quando comparado com o vintage 2015 da casa, que é mais austero e estruturado.
Deste Porto vintage, serão engarrafadas 3000 garrafas, o vinho restante será engarrafado como Porto LBV 2016.
Do património da Noble & Murat provamos ainda outros vinhos dignos de nota:
O tonel 11: um ensaio, em estudo para avaliar a evolução do longo estágio em madeira e o destino final, o futuro desta promessa, provavelmente um tawny de idade. É composto por uma grande diversidade de origens (9), um lote constituído por vinhos das colheitas de 2012 a 2014, onde para além da fruta já se nota a presença da madeira, é complexo e elegante, com aromas e sabor de cereja, ginja e fruta cristalizada.
E um vinho do Porto raro, especial e original, uma cortesia de Alexandre Antas Botelho. Um vinho com origem numa vinha muito velha, pré-filoxérica, em pé franco e que já não existe, uma vinha que crescia em goblet (videira arbustiva não embardada), com cerca de 60% de castas tintas e 40% de castas brancas. Tem a particularidade de ser um vinho novo feito de uma vinha muito velha. Provar este vinho é realmente um momento histórico e irrepetível. É um vinho original e extraordinário, com uma côr ligeiramente aberta, muito químico, com um nariz de fruta vermelha, fino e elegante e com acidez e fruta presentes.
No portfolio actual da Nobel & Murat:
Notas:
Também pode interessar:
Há um compromisso assumido e evidente com a produção de vinhos do Porto de categorias especiais de qualidade superior, vinhos naturais, autênticos, sem artifícios, com identidade e carácter, vinhos do Porto sérios, cuja consistência o futuro certamente assegurará.
O coração dos vinhos do Porto da Noble & Murat
A adega da Noble & Murat localiza-se na Quinta do Bragão, no limite de Celeirós do Douro, em pleno vale do Pinhão, na margem direita do rio (daqui avista-se a Quinta do Fojo, a Quinta do Passadouro, a Quinta da Manoella, a Quinta do Silval e mais ao longe a Quinta do Noval). Uma adega com um ambiente típico e o raro charme que é uma das expressões das adegas tradicionais do Douro.
É aqui, no vale deste rio, que as famílias de Alexandre Antas Botelho e António Borges Taveira, os sócios da Noble & Murat, têm as suas raízes e uma longa tradição de séculos, desde o século XVI, de produção, comercialização e exportação de vinho. Podemos dizer com propriedade, que o Douro está na alma desta casa e se reflecte nos vinhos do Porto que produz. Um projecto intimamente ligado às raízes vitivinícolas do Douro.
É importante ter presente que, no Douro, a produção vitícola é realizada, fundamentalmente, através de duas formas, por um lado as quintas e por outro as vinhas ou parcelas de vinha isoladas. Consideremos que, com excepção dos grandes produtores, proprietários de várias quintas no Douro, quem explora uma quinta conta com as vinhas e uvas dessa produção, com características próprias mas, apesar de tudo, com uma menor margem de escolha em diversidade do que aqueles produtores que têm à sua disposição vinhas com diferentes localizações, com particularidades distintas, com vinhas velhas e outras vinhas com diferentes idades e variedades de castas, localizadas a altitudes, em condições climáticas e com exposições solares diversas. Todos estes factores, antes de mais, permitem ao produtor maiores possibilidades e variedade de escolha e vão conferir uma maior riqueza, complexidade e longevidade aos vinhos, como perceberemos ao longo deste texto.
A Noble & Murat produz vinho do Porto com base em 6 vinhas, 3 das quais são propriedade dos sócios da firma, com localizações privilegiadas e diversas no vale do Pinhão e no vale do Tedo (sub-região do Cima Corgo), com um intenso trabalho de campo para acompanhamento e controlo constante.
O processo de vinificação e produção é tradicional e inteiramente manual, entendido e assumido como o método que mais respeita as uvas e o terroir.
Após a escolha e selecção, as uvas são vinificadas separadamente, num processo de vinificação "à antiga", com algumas particularidades importantes e dignas de destaque, para compreendermos não só os vinhos, mas também a filosofia deste produtor.
Como dissemos, o produto das vinhas é vinificado em separado, com o recurso exclusivo à pisa a pé, em pequenos lagares com lajes de xisto e granito, com um elevado rácio homem por pipa no lagar, o que acaba por ter uma enorme influência no vinho. Para percebermos melhor a raridade e sentido deste processo, num lagar com uma dimensão aproximada de 5 x 5m, as uvas são pisadas por cerca de 24 a 26 pessoas e nos lagares mais pequenos, com uma dimensão aproximada de 2,5 x 3m por cerca de 15 pessoas. Mais do que uma equipa, uma família que todos os anos faz este trabalho em conjunto.
As uvas são vinificadas com o engaço, o que envolve mais trabalho, mas que é um método decisivo para a qualidade final e carácter destes vinhos. A fermentação com engaço permite a absorção do calor e contribuí para o controlo da temperatura durante a fermentação e ajuda ao arejamento das leveduras nativas, conferindo o chamado "tanino verde", a acidez do engaço vai traduzir-se em tanino e aroma e é um factor fundamental para a longevidade dos vinhos. Há também muito trabalho manual nesta fase, por exemplo, quando a manta sobe é trabalhada manualmente com os tradicionais macacos(1) durante toda a fermentação.
Mais uma das especificidades do processo de vinificação aqui praticado, está na qualidade da prensagem, com a utilização de uma antiga prensa (uma prensa "FAS" forrada a inox que extraí até à última gota e o engaço sai seco). Os produtores defendem que uma boa prensagem vai conferir a extracção e corpo necessários, que o mesmo é dizer, côr e tanino ao vinho. Um lagar completo será equivalente a cerca de uma prensa e um quarto. Este "vinho de prensa" integra depois o vinho restante saído dos lagares.
Outra das particularidades e que constituí um dos segredos da casa é o procedimento de fortificação do vinho, com a finalidade de obter uma melhor integração e homogeneização da aguardente vínica com o vinho, para conseguir uma maior preservação dos aromas e da estrutura do vinho do Porto.
Após a vinificação separada de cada uma das vinhas, o vinho resultante é mantido individualizado em tonéis, para acompanhamento da sua evolução e qualidade e avaliação do potencial para Porto vintage.
As vinhas, a selecção de uvas e os métodos de vinificação são exactamente os mesmos para os vinhos do Porto Late Bottled Vintage e para os Porto Vintage da casa. Aqui o LBV é de estilo tradicional, não filtrado, mais estruturado e encorpado e é literalmente um vintage engarrafado mais tarde. À saída do lagar é feita uma triagem e o destino do vinho é determinado nesse momento. Naqueles anos em que não é produzido vintage, o vinho é praticamente todo destinado ao LBV da casa.
Algum do vinho produzido em cada ano é também reservado para um envelhecimento mais prolongado em madeira que dará origem a um Tawny colheita (tonel 11) e também algum é conservado para um Tawny de idade.
A composição de um Porto vintage clássico
Compreender os elementos da assemblage de um Porto vintage
Em bom rigor, o vinho do Porto vintage, um vinho de qualidade excepcional, produzido em pequeníssimas quantidades, com as melhores uvas de uma só vindima, num ano de condições perfeitas e que é a suprema expressão do vinho do Porto, num determinado sentido é também um vinho de lote, não no sentido de ser constituído por um lote de vários vinhos com diferentes idades de envelhecimento e com origem em várias colheitas, como é o caso dos Porto tawny com indicação de idade, mas sim um lote de uvas seleccionadas de uma mesma vindima ou colheita e de acordo com o perfil que se pretende obter.
Na Noble & Murat existem 6 lotes que são o resultado de uma selecção de uvas de 6 vinhas, de 6 terroirs com características distintas e muito específicas e com diferentes perfis e é o resultado da prova e avaliação destes 6 elementos que aqui daremos conta.
Tivemos a oportunidade e o gratificante privilégio de provar e conhecer estes vinhos, uma experiência estimulante e que torna mais completa a compreensão da essência de um vinho do Porto vintage.
Os nossos agradecimento a Alexandre Antas Botelho e à Noble & Murat pela abertura a uma prova normalmente apenas acessível a quem está envolvido na produção do vinho da casa.
Passemos então a considerar os elementos que integram a composição do mais recente vintage clássico, o Noble & Murat vintage Port 2016.
Os vinhos são mantidos em cubas e tonéis durante cerca de 2 anos.
O 1.º elemento da cuba 8 (as cubas com uma capacidade de 5000l)
Proveniente de uma vinha muito velha no vale do Tedo. Um vinho em que dominam os aromas primários, com fruta fresca, intensa e evidente, terroso e com muita madurez.
O 2.º elemento, do tonel 7 (os tonéis são de castanho, com capacidades variáveis, entre os 5500l e os 7000l)
Com origem noutra vinha velha do vale do Tedo. Um vinho notoriamente mais ácido e taninoso, com um nariz ainda fechado, onde sobressaí a fruta vermelha.
O 3.º elemento, do tonel 8
Com origem numa vinha de Covas do Douro. É a amostra "cheirante", um vinho muito aromático e muito exuberante, mas com menos estrutura e menos comprimento quando comparado com os vinhos anteriores. Podemos dizer que nesta amostra, para além das notas descritas, faltam as características das amostras anteriores.
O 4.º elemento, do tonel 9
De uma vinha velha no vale do Tedo. É uma amostra mais complexa. Tem como notas principais ser um vinho meio-seco, que inicialmente parece doce mais que depois é cortado por uma secura evidente, um vinho mais equilibrado. Aqui percebe-se o conceito de uma vinha superior, se só houvesse uma quinta, este seria o vintage de quinta, um vinho que vale por si só.
O 5.º elemento, do tonel 10
De uma vinha de vale de Mendiz. É um vinho base, muito completo, com muita côr e muito encorpado, é exuberante, com muito aroma, terroso e com uma boa acidez, um vinho mastigável, impressivo, rugoso, bruto e mais completo, que se destaca também pelo comprimento dos taninos.
O 6.º elemento, da cuba 11
De outra vinha de vale de Mendiz e de uma vinha no vale do Tedo. Esta última com a particularidade de se tratar de uma vinha única de touriga nacional, com origem num clone(2) único desta casta (uma excepção à predominância no Douro do clone de touriga nacional proveniente da Quinta do Ataíde). É um vinho muito floral e exuberante na boca, fino e com pouca acidez.
O resultado final será o Noble & Murat Vintage Port 2016. já aprovado pelo IVDP, no passado mês de Maio, logo após a nossa visita, num ano clássico de Porto vintage. Este vintage tem como notas principais, um nariz exuberante, com aromas florais e também com o caractér da fruta vermelha e preta, com uma excelente estrutura, boa acidez e um final meio-seco. É um vintage mais elgante e aromático quando comparado com o vintage 2015 da casa, que é mais austero e estruturado.
Deste Porto vintage, serão engarrafadas 3000 garrafas, o vinho restante será engarrafado como Porto LBV 2016.
Do património da Noble & Murat provamos ainda outros vinhos dignos de nota:
O tonel 11: um ensaio, em estudo para avaliar a evolução do longo estágio em madeira e o destino final, o futuro desta promessa, provavelmente um tawny de idade. É composto por uma grande diversidade de origens (9), um lote constituído por vinhos das colheitas de 2012 a 2014, onde para além da fruta já se nota a presença da madeira, é complexo e elegante, com aromas e sabor de cereja, ginja e fruta cristalizada.
E um vinho do Porto raro, especial e original, uma cortesia de Alexandre Antas Botelho. Um vinho com origem numa vinha muito velha, pré-filoxérica, em pé franco e que já não existe, uma vinha que crescia em goblet (videira arbustiva não embardada), com cerca de 60% de castas tintas e 40% de castas brancas. Tem a particularidade de ser um vinho novo feito de uma vinha muito velha. Provar este vinho é realmente um momento histórico e irrepetível. É um vinho original e extraordinário, com uma côr ligeiramente aberta, muito químico, com um nariz de fruta vermelha, fino e elegante e com acidez e fruta presentes.
No portfolio actual da Nobel & Murat:
- Noble & Murat Reserve Port
- Noble & Murat 10 Year Old Dry White Port;
- Noble & Murat LBV 2012;
- Noble & Murat LBV 2014;
- Noble & Murat Vintage Port 2015 (6600 garrafas produzidas);
- Noble & Murat Vintage Port 2016;
- Noble & Murat Vintage Port 2017;
- Noble & Murat Porto Tawny 20 anos
Noble & Murat
Alexandre Antas Botelho e António Borges Taveira
Telm.: +351 96 327 42 50
noble.murat@gmail.com
(1) Macaco: um utensílio de madeira, com cerca de 1,5m de comprimento, que na parte inferior tem fixadas em cruz pontas também de madeira. É utilizado pelos lagareiros, durante a fermentação, perfurando a manta, obrigando a matéria sólida a descar para o fundo do lagar. Pretende-se que o mosto recomece a fermentar com as cascas das uvas tintas, no intuito de lhes retirar o máximo de matéria corante e taninos (in, Dicionário Ilustrado do Vinho do Porto, de Manuel Poças Pintão e Carlos Cabral).
(2) Clone: é obtido pela multiplicação vegetativa de uma única planta, para conferir ou reproduzir as mesmas características noutras vinhas a partir desta. As vinhas são muito adaptáveis, reagem em função das condições ambientais com comportamenos diferentes (resistência às doenças, amadurecimento das uvas, cachos mais ou menos compactos e ligeiras diferenças nos aromas e sabores) o que tem como consequência existirem muitas variantes na mesma variedade, que não origina uma nova casta, mas uma subdivisão na casta. Utilizam-se clones para replicar características específicas de uma casta.
©Hugo Sousa Machado
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