Resumo:
Parte II.
- Depois das vinhas, o vinho. Dar vida às vinhas. A identidade dos vinhos da Wine & Soul. A vinificação
- Os mercados e a exportação.
- Conhecer os vinhos. Os vinhos D.O.C. Douro.
- A indispensável atenção aos vinhos do Porto. A tabela dos Porto vintage.
- O azeite.
(Publicado previamente e acessível aqui)
Parte I.
- Um projecto independente e um assunto de família.
- Os protagonistas e o “novo Douro”. A tradição e modernidade.
- O início, no princípio era a vinha... onde tudo começou, a vinha “Pintas”.
- Vale de Mendiz, o quartel-general e o centro de actividade da Wine & Soul no vale do Pinhão.
- O espírito da casa. O fascinío pelas vinhas velhas, em busca das vinhas perfeitas num terroir especial, o potencial do Vale do Pinhão. A vinha antes do vinho.
- A vinha velha “Pintas”, a vinha emblemática da casa: A caracterização da vinha. O mapeamento da vinha.
- As outras vinhas da Wine & Soul, um puzzle de vinhas.
- A Quinta da Manoella. A memória, algumas referências históricas. Descrição. As várias “Manoellas”...
- A vinha centenária da Quinta da Manoella, o sentido do lugar. A caracterização da vinha. O trabalho na vinha. O estudo e a preservação da vinha. As outras vinhas da Quinta da Manoella.
- A natureza e a importância da biodiversidade.
Defendem-se os “field-blends” ou os lotes da terra das vinhas tradicionais do Douro, que naturalmente asseguram o fundamental bom equilíbrio aos vinhos, muito mais do que quando se tenta conseguir esse equilíbrio na adega. São vinhos de “terroir” que são o testemunho da identidade e do potencial destas vinhas, da sua natureza especial, vinhos distintivos e diferenciadores. O trabalho nas vinhas, os cuidados nos granjeios vitícolas, nas podas e na selecção apurada das uvas na vinha e na adega e a posterior vinificação têm como objectivo respeitar e manter a identidade e personalidade das vinhas.
Com o passar dos anos e das sucessivas vindimas, a experiência acrescida, o conhecimento e o saber acumulado do comportamento das vinhas e a própria experiência pessoal dos produtores levam a um aperfeiçoamento progressivo da arte de selecionar as melhores parcelas de vinha, as melhores uvas, mas sobretudo a capacidade de interpretar, avaliar e decidir o momento certo para vindimar.
“Os vinhos da Wine & Soul têm muito a ver
com o trabalho na vinha, com o trabalho de campo, porque queremos respeitar a
natureza o mais possível e, no fundo, aqui é que está a essência da Wine & Soul,
que é dar expressão a vinhas, respeitando a identidade e a personalidade de
cada uma delas.” Jorge Serôdio Borges.
A Vinificação.
É em Vale de Mendiz que decorre todo o processo de vinificação dos vinhos da casa, na pequena casa dos lagares da adega. A partir de 2019, com a aquisição do edifício de uma antiga azenha de produção de azeite, também localizado em Vale de Mendiz, na estrada que conduz ao rio Pinhão, que tem hoje a função de adega complementar à adega original, destinada à vinificação da totalidade dos vinhos da Quinta da Manoella.
As diferentes vinhas e parcelas de vinha são vinificadas separadamente e no processo de vinificação dos vinhos tintos e dos vinhos do Porto são mantidas as práticas ancestrais e tradicionais de vinificação, com uma intervenção mínima e uma vinificação simples para não perturbar o que as vinhas dão. Mantém-se a pisa a pé nos lagares tradicionais de granito de pequena e média dimensão, onde também decorre a fermentação. É assumido que esta continua a ser a melhor opção para os vinhos de qualidade e é um método que confere características importantes aos vinhos, como uma melhor extração, uma intensidade e suavidade superiores, características que são impossíveis de obter com outros métodos mecânicos.
Após a vindima manual, as uvas são transportadas em caixas de 20kg. para a adega em Vale de Mendiz, onde se procede a uma separação e selecção criteriosa das uvas que são escolhidas à mão, porque, apesar da tendência ser o amadurecimento das diferentes castas em tempos aproximados, pode acontecer que em alguns casos os tempos de maturação não sejam uniformes. No caso dos vinhos tintos DOC Douro, procede-se ao desengace completo dos cachos, o que não sucede quando se vinificam os Vinhos do Porto da casa, em que, depois da selecção das uvas, estas entram nos lagares sem desengace e os cachos inteiros são pisados a pé, o que é um factor essencial para a estrutura, qualidade final e longevidade destes vinhos.
O trabalho inicial nos lagares, o corte (que separa a polpa da película da uva), é realizado por uma equipa de cerca de 12 pessoas que procede à pisa a pé durante três noites e durante o dia é utilizada a pisa mecânica apenas para baixar a manta. Nos vinhos tintos a primeira extração é muito importante, depois, o trabalho de pisa é mais ligeiro e suave, até que se limita a empurrar ou descer a manta, tarefa que é assegurada por uma pessoa, recorrendo-se também a um sistema mecânico unicamente com esta finalidade, a de perfurar a manta para obrigar a matéria sólida a descer para o fundo do lagar, afim de obter maior extracção do mosto, i.e., retirar mais matéria corante, taninos e outros componentes.
A fermentação maloláctica dos vinhos tintos ocorre já nas barricas para uma melhor integração da madeira no vinho (assumindo aqui o risco, uma vez que o vinho está desprotegido, sem a utilização de sulfuroso). Nos vinhos do Porto a vinificação obriga a uma maior extracção e por isso exige mais pessoas no lagar durante um maior período de tempo.
São utilizadas as leveduras naturais que vêm das uvas e o controlo das temperaturas nos lagares durante as fermentações é, aliás, a única tecnologia existente. Durante a fermentação permite-se uma maceração mais prolongada com uma gradual e suave extração de taninos que depois vai conferir aos vinhos maior equilíbrio e elegância. Uma vez terminada a fermentação, as massas sólidas resultantes que saem dos lagares são destinadas à antiga prensa vertical “FAS”, património da casa, para a prensagem, um equipamento indispensável para a qualidade do “vinho de prensa”, a acrescentar depois ao vinho que terminou o período de fermentação em lagar.
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A adega em Vale de Mendiz. |
Nos vinhos brancos o trabalho de vinificação decorre com a utilização de prensa pneumática, um auto vinificador com sistema mecânico. No armazém junto à adega, vinificam-se os vinhos brancos em cubas de aço inox e em barrica com controle de temperatura barrica a barrica, de acordo com a capacidade da barrica e os mostos, uma enologia de precisão.
Nos vinhos D.O.C. Douro, consoante os casos, seguem-se os estágios em barrica que decorrem da forma mais tradicional possível, em barricas de carvalho francês com uma capacidade de 225 litros. Nos vinhos tintos são sempre utilizadas barricas usadas, que não interferem nos aromas delicados dos vinhos e na sua expressividade, que se perderiam com a impressão mais intensa da madeira nova. O objectivo é a micro-oxigenação que a barrica permite durante um período longo.
Na adega, os vinhos que foram idealizados, são acompanhados e provados ao longo do ano, por cada um dos enólogos, separadamente e, na fase final, antes de fazer o lote ou finalizar o vinho, a prova é conjunta, para discutir opiniões e acertar pormenores para chegar ao resultado final.
Para a Wine & Soul é muito importante que os vinhos passem dois invernos em barricas no Douro, porque a temperatura no inverno é muito baixa e estabiliza naturalmente o vinho.
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A prensa pneumática utilizada na vinificação dos vinhos brancos D.O.C. Douro. |
Como referimos, o grande princípio orientador do processo de vinificação é o da mínima intervenção possível, indispensável para se conseguir a máxima expressão da natureza, do potencial dos diversos terroirs e das virtudes das vinhas velhas, da riqueza e de concentração das uvas. É o terroir único e as vicissitudes do ano vitivinícola que vão determinar a expressão dos vinhos. Na Wine & Soul, estes princípios são afirmados com grande clareza e sem artifícios, e depois, a vontade de querer fazer sempre melhor impõe um padrão especialmente elevado e um grande cuidado em todos os pormenores.
“a dimensão neste negócio não é tão importante assim, para ter qualidade, aliás, é muitas vezes mais fácil, atingirmos níveis de qualidade superiores, com dimensões mais pequenas.“ Jorge Serôdio Borges.
2. Os mercados e a exportação.
Actualmente a Wine & Soul produz cerca de 120.000 garrafas por ano, incluindo vinho do Porto e com um preço médio que é superior à realidade da região.
Da totalidade da produção, cerca de 70% dos vinhos destinam-se à exportação e 30% ao mercado nacional, que é constituído essencialmente por garrafeiras e restaurantes. Apesar de serem uma empresa de pequena dimensão e com produções limitadas, os vinhos são exportados para destinos muito diversos. São aproximadamente 25 países e os principais mercados externos são Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Suécia, Brasil e Ásia, em geral para quase todos os países da europa. Curiosamente, juntaram-se ultimamente pedidos da África do Sul e de Malta e iniciar-se-á agora a exportação para a Austrália. Desde o seu início, a Wine & Soul concentrou-se muito na exportação, e a existência de vários mercados foi sempre uma grande vantagem para escoar as produções e conseguir um equilíbrio em termos de vendas. O mercado dos EUA é muito importante e estratégico para a casa, uma vez que se trata de uma referência para o resto do mundo, por uma questão de visibilidade e reconhecimento internacional dos seus vinhos, como sucedeu com as descrições e classificações pela revista americana Wine Spectator.
Estes dados são pré-pandemia, anteriores a uma crise generalizada nas vendas de vinho provocada pela pandemia, com efeitos em 2020 e em 2021, em que as vendas caíram muito no mercado nacional e ainda não recuperaram e, por sua vez a exportação subiu.
3. Conhecer os vinhos.
A casa produz actualmente 80% Vinhos D.O.C. Douro e 20% vinho do Porto, no entanto, no futuro o objectivo é prestar mais atenção ao vinho do Porto, com a promessa do reforço do portfolio com novas propostas nesta categoria.
Com o decurso do tempo, as referências foram aumentando, sempre com a preocupação dominante em mantêr a identidade própria de cada vinho, que procuram traduzir toda a história dos terroirs que estão na sua origem. Os vinhos têm já um consistente e indiscutível reconhecimento de qualidade superior, que é consensual a nível nacional e internacional, consagrado pelos mais prestigiados críticos de vinho do mundo.
A Wine & Soul nos vinhos D.O.C. Douro não segue as classificações nem aplica as designações complementares da entidade certificadora, (o IVDP), (como por exemplo, as designações geralmente utilizadas nos vinhos do Douro, como “Reserva” ou “Grande Reserva”), porque o que se pretende e o mais importante é o valor da marca e o reconhecimento da qualidade intrínseca, que se vai criando com o tempo e com a grande consistência e sucesso dos vinhos.
Todo o trabalho na vinha e na adega é um trabalho de precisão, a atenção a todos os pormenores, o cuidado e bom gosto que está reflectido na imagem e na identidade da marca e dos vinhos, no design dos rótulos, simples e com cores neutras merecem destaque, assim como a escolha da designação dos vinhos, como no caso do “Pintas”, uma designação curta e perceptível, facilmente soletrável em diversos idiomas. Seguindo estes valores, a imagem dos vinhos do portfolio da Wine & Soul foi renovada em 2021, da responsabilidade de Rita Rivotti, especialista em design de vinhos.
“O Douro, apesar de mais de três séculos de existência, soube reinventar-se criando os vinhos do Douro em paralelo com os do Porto”. Jorge Serôdio Borges.
Os vinhos D.O.C. Douro
O grande caractér destes vinhos são os field-blends das vinhas velhas e a singularidade da sua expressão. Aqui não existem vinhos de uma única casta. A decisão foi produzir exclusivamente vinhos de grande qualidade, de categoria premium, vinhos que se tornaram numa referência de qualidade e da modernidade do Douro, do “novo Douro”. Não será despropositado afirmar que os vinhos aqui produzidos estão entre os melhores do Douro e do país.
Pintas,
tinto: um
vinho que nasceu com a colheita de 2001, o “inconfundível” de uma vinha
especial nasceu um vinho especial, de uma parcela única de vinha velha, é um
dos grandes vinhos tintos do país. Um puro vinho de terroir que pretende mostrar a grande identidade
do Douro, foi a primeira criação da casa e é o ícone da Wine & Soul.
Um vinho do Douro moderno, mas com identidade e raízes na tradição duriense,
que alcançou um estatuto de referência na região e o reconhecimento entre os
críticos de vinhos e revistas internacionais especializadas. Representa “o
Douro no seu melhor”, como já foi classificado. (mais detalhes sobre a vinha "Pintas", na parte I., ponto 6.)
Uma das grandes colheitas deste vinho foi o ano de 2011, que representou um grande marco na vida da Wine & Soul e do seu reconhecimento e impacto a nível mundial, com a atribuição de 98pts. pela “Wine Spectator”, a conceiptuada e influente revista norte-america especializada em vinhos, que acabou por destacar e reconhecer internacionalmente o vinho, a marca e a casa. Em 2020, na mesma publicação, o “Pintas” foi incluído na lista dos 100 melhores vinhos do ano, depois da selecção de uma quantidade de muitos milhares de um universo de vinhos do mundo inteiro (na qual era o único vinho português). Actualmente é um vinho a par com os tintos clássicos mundiais.
Conta agora, com 21 edições desde o lançamento do primeiro “Pintas” da colheita de 2001, que no início era um vinho com uma grande concentração e mais marcado pela madeira, um estilo mais excessivo, que continua a ser um vinho que demonstra bem o pensamento inicial da casa. Ao longo das várias edições a evolução deste estilo tem sido no sentido do refinamento e complexidade, que mantém a identidade, mas que exprime agora melhor o terroir, com profundidade e concentração, mas também com equilíbrio e elegância, sempre com assinalável consistência e produzido em pequenas quantidades (desde a primeira edição sempre com pequenas produções, entre as 4000 e as 6000 garrafas). Com potência de fruta, taninos e concentração, é um vinho que precisa de garrafa, de tempo de guarda, para atingir a harmonia e que começa a aproximar-se de um ponto óptimo para ser plenamente apreciado nunca antes de 10 anos após a colheita.
As uvas, depois de selecionadas e desengaçadas, são pisadas a pé nos lagares tradicionais de granito, onde fermentam durante 10 dias, com posterior fermentação maloláctica e um estágio de 20 meses em barricas de carvalho francês de 225 litros, até 20% das quais são barricas novas. Como referimos, houve uma evolução ao longo dos anos no método de integração da madeira no vinho, com uma redução progressiva da utilização da madeira nova.
Guru, branco: teve a sua primeira edição em 2004, foi o primeiro vinho branco e é hoje a referência da casa neste estilo, é um vinho que revela a versatilidade da região e o grande potencial das zonas mais altas do Douro para produzir grandes vinhos brancos a partir de vinhas localizadas nas áreas certas. É também um branco de vinhas velhas, um “field-blend” a partir de vinhas que eram utilizadas para a produção de vinhos do Porto brancos, com uvas de diversas parcelas de oito vinhas velhas, próximas umas das outras, localizadas a uma maior altitude, a cerca de 600 metros, na aldeia de Porrais, em Murça, mais a norte da região, junto a Trás-os-Montes, em solos da zona de transição entre o xisto e o granito e com muito quartzo. Esta é, claramente, a melhor zona do Douro para a produção de vinhos brancos, com uma combinação perfeita para vinhos muito finos e com uma identidade muito própria. As parcelas são vinificadas separadamente porque têm características diversas e diferentes pontos de maturação. Com apenas 4 variedades de uvas, a Rabigato com menos aroma mas que confere a necessária acidez, a Códega do Larinho e a Gouveio são mais neutras nos aromas mas conferem estrututa e textura, e o Viosinho que é a casta mais aromática. As uvas depois de seleccionadas e parcialmente desengaçadas são prensadas na prensa pneumática e a prolongada fermentação com as borras vai favorecer a textura e o sabor com um pouco mais de extracção. A fermentação e estágio decorre em barricas de carvalho francês de 500 litros (actualmente são 56 barricas destinadas aos vinhos brancos da casa), 9% das quais são barricas novas e outras usadas, de várias idades, durante cerca de quatro semanas, a baixas temperaturas, e estagia nas mesmas barricas durante oito meses, em contacto com as borras e com “battonage”.
Desde a sua primeira edição, o vinho tem evoluído no perfil, para o actual que é menos marcado pela madeira e mais centrado na frescura da fruta. É essencialmente, um vinho branco de guarda, com grande capacidade de envelhecimento.
Guru NM, Non Millésime, branco, ou o “guru perfeito”, um grande vinho branco do Douro, sem indicação do ano, trata-se de uma edição especial do “guru”, mais exclusiva e muito reduzida, de apenas 1599 garrafas (com a primeira edição lançada em 2020 e com posterior lançamento de três em três anos ou de quatro em quatro anos). Esta primeira edição é um blend de três colheitas diferentes do guru, de 2010 (20%), 2013 (40%) e 2015 (40%) e resulta de uma selecção de barricas dos vários anos e de parcelas diferentes de vinhas que integram o guru, com estágios mais longos em barrica de carvalho francês a que se segue um estágio de três anos em garrafa, i.e., não se trata de um lote de “guru” de cada um destes anos, mas da escolha de parcelas de vinha especifícas que após a vinificação foram deixadas bastante mais tempo em barrica e depois em garrafa. É um guru mais evoluído e mais perfeito e que surgiu da vontade de mostrar o potencial de envelhecimento deste vinho.
Destas experiências e ensaios irão surgir futuramente outras novidades.
Guru Vinha da Calçada, branco: em primeira edição, surgiu em Outubro de 2023, da colheita de 2020. Um vinho que é proveniente de uma parcela de vinha velha tradicional, com mistura de castas e a uma altitude de 600 metros (que foi adquirida recentemente, no final de 2019). Um aspecto curioso é a designação do vinho, que tem origem na calçada romana que atravessa a vinha. Foi decidido um processo de vinificação separado, diferente, não como o guru, mas em que a fermentação e o estágio decorre em “foudre” de carvalho francês (uma barrica com maior capacidade ou tonel, em que a relação madeira/vinho é mais baixa) com uma capacidade de 1200 litros, onde tudo acontece mais lentamente, com um impacto mais suave e mais neutro da madeira, com menos aromas e sabores da madeira, em que o vinho fermentou e teve um estágio mais longo, de dois anos a que se seguiu mais um ano de estágio em garrafa, que ajudou ao perfil mais fino e delicado do vinho. Foi engarrafada uma pequena quantidade de 1533 garrafas.
Vinha do Altar Reserva branco: a primeira edição da vindima de 2019, de um vinho de uma “nova região” para a produção de grandes brancos do Douro. É um blend de Viosinho, Gouveio e Arinto de uma vinha localizada em Fermentões, no planalto de Sabrosa, na sub-região do Cima Corgo, a cerca de 600 metros de altitude, um vinho com um perfil e uma expressão aromática totalmente diferentes dos outros brancos da Wine & Soul, o Guru e o Maneolla branco, consequência dos solos totalmente diferentes, aqui 100% xisto e com uma exposição a norte. As uvas são seleccionadas e desengaçadas e passam para a prensagem pneumática para depois fermentarem em cubas de inox a temperaturas baixas durante um mês. Estagia com as borras finas durante seis meses para potenciar a expressão gustativa.
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A definição dos lotes finais. (fonte: Wine & Soul) |
Quinta da Manoella Vinhas Velhas, tinto: A aquisição da Quinta da Manoella veio permitir o alargamento e o enriquecimento do portfolio de vinhos da casa. É um vinho que nasceu com a primeira edição em 2009, e desta primeira vindima só se fizeram 3.000 garrafas. Actualmente, com a 13.ª edição da colheita de 2021, são engarrafadas aproximadamente 4.000 garrafas. Assim como o “Pintas”, é reconhecidamente um dos grandes vinhos do Douro e do país. Representa as vinhas mais velhas desta propriedade e é a expressão de um Douro completamente diferente do “Pintas”, a prova de que é possível obter vinhos do Douro de grande qualidade com perfis completamente diferentes. Com menos fruta negra e mais floral, com algumas notas vegetais e também especiarias, terra e mineralidade e com um final longo. São dois estilos muito diferentes de vinhos tintos do Douro. (mais detalhes sobre a vinha centenária da Quinta da Manoella, na parte I., ponto 9.) É um perfeito exemplo de um vinho de terroir, com identidade e carácter vincado, a expressão máxima das características do local onde nasce, que se reflectem no vinho, é puro e fresco, elegante, com complexidade e concentração, com aromas de bosque e nada voltado para a fruta madura que tanto caracteriza muitos vinhos do Douro
Tem origem nas uvas de duas parcelas da vinha centenária da quinta e a partir de cerca de 30 variedades de diversas castas indígenas do Douro, reflecte a frescura do local particular onde nasce e biodiversidade que envolve a vinha. A localização e toda esta envolvência ajuda a criar vinhos com uma elegância pouco comum na região. É um Douro diferente, que resulta da caracterização e da diversa composição desta vinha e a predominância da Tinta Francisca na vinha velha que contribui para a sua elegância e frescura. É produzido a partir de uvas selecionadas e parcialmente desengaçadas, com pisa a pé em lagar tradicional de granito onde fermentam durante 10 dias, de seguida a fermentação maloláctica e o estágio decorre durante 22 meses em barricas novas de carvalho francês. Tem uma produção muito reduzida. É também um vinho de guarda, que envelhecerá bem durante muitos anos. Um vinho que é “um hino às vinhas velhas da região”.
Quinta da Manoella Vinha Alecrim, tinto: uma nova referência da colheita de 2015, que surgiu em primeira edição muito recentemente no mercado, no final de 2023. Assinala os 185 anos da Quinta da Manoella. Tem a sua origem numa parcela muito pequena da vinha centenária da quinta, chamada Vinha Alecrim, assim designada por estar localizada junto a um grande e antigo alecrim (e próxima da adega da quinta), plantado para atraír as abelhas para a polinização (junto ao apiário da quinta). A reduzida parcela de vinha, com cerca de 0,8 hectares, tem uma produção muito baixa e ao longo dos anos foi possível identificar uma expressão distinta da restante vinha velha, que induziu a que se fizessem vinificações separadas e guardadas à parte. Este vinho especial estagiou 20 meses em barricas de carvalho francês, a que se seguiram mais 6 anos em garrafa. É um vinho de guarda, com uma produção muito limitada, do qual nesta primeira edição foram engarrafadas apenas 496 garrafas (de 75cl.). Integra-se na crescente tendência no Douro para a elaboração de vinhos de pormenor, de uma parcela específica de vinha. É um vinho que demonstra que a Quinta da Manoella consegue perfis de vinhos muito diferenciadores, sai do estilo mais concentrado característico dos vinhos do Douro e evidencia um perfil mais elegante e menos de potência. Elegância e pureza seria o que melhor o define.
Manoella Tinto, surgiu a primeira edição com a colheita de 2010, é um field-blend, produzido a partir de uvas de vinhas mais recentes da Quinta da Manoella, como referimos atrás, plantadas no final dos anos 70 e início dos anos 80 do séc. XX, agora com cerca de 42 anos de idade e uma exposição a sudoeste, a que se juntam ainda outras uvas compradas. Um field-blend, a partir de vinhas com mistura de castas, mas maioritariamente Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Francisca. A Tinta Francisca que completa o lote das três castas é uma casta muito elegante e fina, muito floral. As uvas são selecionadas e desengaçadas, pisadas a pé em lagar de granito durante 12 horas e depois fermentam em cubas de inox durante 8 dias. Estagia em barricas usadas de carvalho francês durante 16 meses. Um vinho que é uma boa expressão da região, com estrutura, frescura e elegância
O Manoella branco teve a primeira colheita em 2015, é produzido a partir de um field-blend de uvas selecionadas das castas Gouveio, Viosinho, Rabigato e Códega do Larinho de vinhas velhas, com 57 anos de idade, plantadas em solos graníticos e com exposições predominantes a norte, a uma altitude de 600 metros, mas numa zona diferente das vinhas que estão na origem do guru, na zona de Carrazeda de Ansiães. As uvas depois de seleccionadas e desengaçadas passam pela prensa pneumática, com fermentação em cubas de aço inox a baixas temperaturas, durante 8 semanas e depois estagia em cubas de aço inox e ovo de cimento, durante mais de 6 meses em contacto com as borras finas. Um branco puro, muito mineral e com uma textura muito fina.
O Manoella rosé, o mais recente, com a 1.ª edição da colheita de 2019, um vinho 100% Touriga Nacional, que nasce a partir de uma parcela de vinha com 43 anos de idade da Quinta da Manoella, plantada a 450 metros de altitude e com uma exposição a sudoeste. As uvas são seleccionadas e passam por uma prensagem muito suave na prensa pneumática, com a protecção de gás carbónico, para obter um vinho delicado e manter uma pureza de aromas e sabores muito fina, depois fermentou muito lentamente, durante cinco semanas em cubas de inxox a temperaturas baixas, esteve em contacto com as borras finas durante seis meses para ganhar algum volume de boca, mas sem extraír demasiado. O objectivo é conseguir um vinho rosé clássico, versátil, fino e seco, com frescura e mineralidade e uma acidez bem presente. O que é também interessante é o facto de ser um vinho que irá evoluir em garrafa durante mais alguns anos.
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Adega de vinho do Porto, na Quinta da Manoella. (fonte: Wine & Soul) |
Os vinhos do Porto. A indispensável atenção aos vinhos do Porto.
A Wine & Soul desde o seu início nunca deixou de se dedicar ao vinho do Porto, cuja produção é assumida como a consequência lógica de estar no Douro – o vinho do Porto é a alma do Douro e é um produto único mundial - e de respeitar esta tradição histórica duriense, que é crucial e intrínseca à região e ao vale do Pinhão sem deixar de ser uma homenagem às vinhas históricas especiais que só existem por causa do vinho do Porto. Ao longo dos anos, a casa tem vindo progressivamente a investir e a constituir o seu próprio stock de vinhos do Porto tintos e brancos, gradualmente com mais anos de envelhecimento. Nos anos não declarados como Vintage, todo o vinho do Porto é destinado ao estágio em madeira, aumentando os stocks da casa para futuramente alargar a sua colecção de vinhos do Porto, com um perfil próprio, diferente dos vinhos do Porto clássicos, e mostrar que é possível fazer vinhos diferenciadores também no vinho do Porto, assumindo que esta é também uma missão dos produtores mais pequenos, apresentar outras propostas e levar o vinho do Porto mais além e a outros consumidores.
Para além destes vinhos de produção própria foram sendo também adquiridos outros lotes de vinhos do Porto velhos a famílias durienses. Nos últimos anos, uma parte do investimento da Wine & Soul tem a finalidade de aumentar os stocks próprios de vinhos do Porto, com a aquisição de lotes velhos. Este stock que foi sendo sucessivamente aumentado ao longo dos anos, com vinhos produzidos e adquiridos, atinge hoje as cerca de 300 pipas.
“É uma pena que tantos dos produtores mais novos se concentrem no vinho de mesa – o Porto não deve ser esquecido.” Jorge Serôdio Borges
Os vinhos do Porto Tawny requerem mais “tempo, paciência, espaço e investimento”, contudo, nesta categoria prevê-se o alargamento futuro aos lotes de Porto tawny de 30 e 40 anos, com a marca “Manoella”, mantendo-se o Vintage da casa com a marca “Pintas” que indica o local onde nasce.
Manoella Tawny Finest Reserve Porto, elaborado a partir de um lote de vinhos do Porto da Quinta da Manoella envelhecido durante uma média de seis anos, em cascos com uma capacidade aproximada de 630 litros. Por sua vez, o Manoella Ruby Finest Reserve Porto, é o resultado de um lote de vinhos do Porto da Quinta da Manoella, envelhecido durante uma média de seis anos, em tonéis de carvalho de maior capacidade, um Porto ruby com mais evolução e complexidade.
Manoella 10 anos Porto Branco extra-seco, com um grau de doçura de 42g/L, é um lançamento relativamente recente e original da casa. Pretende ser o argumento para as pessoas voltarem a beber mais vinho do Porto. É elaborado a partir de um lote de vinhos brancos com origem em vinhas velhas de altitude, das castas Viosinho, Rabibato, Códega do Larinho e Gouveio. As uvas foram pisadas a pé e fermentadas nos lagares de granito a que se seguiu um período de estágio na adega da Quinta da Manoella em barricas avinhadas de 630 litros. Manoella 10 Porto Branco. As uvas, a vinificação e o processo de envelhecimento são idênticos aos do vinho anterior, mas com um teor de açúcar mais elevado, neste caso 94g/L.
Manoella 10 Years Old Tawny Port. (corresponde ao anterior “Wine & Soul 10 Years Old Tawny Port”), mas esta referência assume agora a marca “Manoella”. Um Porto tawny 10 anos, mas que sugere mais idade do que a indicada no rótulo. Foi criado em 2011 quando a Wine & Soul cumpriu 10 anos de existência. É um vinho que cumpre a tradição das famílias tradicionais do Douro, onde sempre se fez e em que todo o negócio se desenvolvia à volta do Porto Tawny, ao contrário das casas britânicas que mostraram sempre uma preferência pelo estilo ruby/vintage. Tem uma produção pequena, mas considerado fundamental para assinalar a ligação da casa ao vinho do Porto. É elaborado a partir dos stocks de vinho do Porto tawny que se foram constituindo ao longo dos anos. São vinhos produzidos a partir de vinhas velhas da Quinta da Manoella, com uvas de cerca de 30 castas tradicionais do Douro a que se seguem os métodos tradicionais de vinificação, depois da selecção das uvas, pisa a pé nos lagares de granito sem desengace, o estágio dos lotes decorre na adega de vinho do Porto da Quinta da Manoella nos antigos e avinhados cascos de castanho português com uma capacidade aproximada de 630 litros, durante mais de 10 anos.
Manoella 20 Years Old Tawny Port, a novidade é o mais recente tawny da casa, que vem reforçar a aposta nos vinhos do Porto. É também envelhecido nos antigos cascos de castanho português da adega da Quinta da Manoella tem uma produção muito limitada com engarrafamento inicial de 1600 garrafas. Procura também distinguir-se por um estilo diferenciado, mais fresco e elegante.
Porto 5G Five Generations, 5G Century old Port: é um vinho de lote constituído por vinhos do Porto muito velhos, alguns dos quais com mais de 100 anos de idade, envelhecidos no Douro, na adega da Quinta da Manoella. Foi produzido em finais do séc. XIX, pelo trisavô de Jorge Serôdio Borges e acompanha a família há 5 gerações, por mais de 120 anos, era um vinho que acompanhava ocasiões muito especiais na família. Um pequeno stock deste vinho foi herdado por Jorge Serôdio Borges em Junho de 2009, são três pipas que envelheceram no Douro, na adega da Quinta da Manoella por mais de 120 anos. Incluí vinhos de colheitas entre 1870 e 1900 Obviamente um vinho muito especial, um delicado e elegante Tawny muito velho que “simboliza a tradição, o saber e a paixão pelo Douro e pelo vinho do Porto”. Uma edição muito limitada a 1200 garrafas, numa pequena quantidade e que representa a magia dos vinhos do Porto muito velhos, caracterizado pela complexidade, equilíbrio, e grande persistência.
O primeiro Pintas Porto Vintage foi da colheita de 2003 e a edição de 2017 é descrita como a melhor edição de sempre, resultado de um ano extraordinário na região e nesta localização do vale do Pinhão, sem dúvida um ano invulgar, muito quente e que originou vinhos com muita concentração, todavia, mantendo uma frescura assinalável.
O novo perfil destes Porto vintage de que, a edição de 2017 talvez seja a melhor expressão e o mais conseguido de sempre, de acordo com a interpretação de Jorge Serôdio Borges, mantendo os métodos tradicionais de vinificação, mas com uma maior preocupação em conseguir vinhos equilibrados mesmo quando ainda novos, sem comprometer o potencial de envelhecimento em garrafa e com a utilização de aguardente de grande qualidade na fortificação.
Têm origem sempre na mesma parcela de vinha velha, produzido a partir de uvas selecionadas da vinha velha Pintas, com 91 anos de idade e uma diversidade de 40 castas autóctones diferentes que são vindimadas um pouco mais cedo do que o habitual, para não exagerar a sobrematuração das uvas e, após selecção e sem desengace são pisadas a pé em lagares tradicionais de granito e depois o estágio decorre nos grandes tonéis (de castanho português) da adega da Quinta da Manoella durante 19 meses. É um vintage consistente do “novo Douro” que é a expressão da vinha e que tem como principais características, a concentração, frescura, pureza e intensidade de fruta e qualidade de taninos. Como referimos atrás, nos anos em que não se declara vintage todo o vinho destina-se a envelhecer em tonéis e enriquecer o stock de vinhos do Porto da casa.
Nas suas 14 edições, os Porto vintage “Pintas” mantêm uma consistência de qualidade assinalável, sem dúvida assente na origem das uvas sempre na mesma parcela da vinha Pintas.
E o azeite.
A Wine & Soul intregra ainda no seu portfolio e constitui também um importante reforço da marca, o azeite virgem extra “Pintas”, porque nem só de vinho vive o Douro. É produzido a partir de diferentes oliveiras de bordadura, que bordejam as vinhas e os caminhos e a partir dos pequenos olivais que também rodeiam a vinha “Pintas”, no vale do Pinhão. São oliveiras com mais de 80 anos em sistema de produção orgânica, das variedades cobrançosa, madural e verdeal, apanhadas à mão pelo método de extracção a frio, suave, para preservar os aromas naturais, são moídas no mesmo dia em que são colhidas.
(link:) O Douro para além da vinha, o azeite "Pintas"
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Pequeno olival junto à vinha "Pintas", que cresceu nos antigos socalcos pré-filoxéricos, outrora ocupados por vinha. |
Onde?
Wine & Soul: o centro de actividade, casa dos lagares, centro de vinificação, adega e centro de visitas:
Avenida Júlio de Freitas, Vale de Mendiz
5085-101 Pinhão
office@wineandsoul.com
Telf.: 254 738 076 Telm.: 93 616 14 08
(referências geográficas: latitude 41°13’18’’N e longitude 7°32’01’’O)
Quinta da Manoella:
(referências geográficas: latitude 41°14’58’’N e longitude 7°32’03’’O)
Texto e fotografias ©Hugo
Sousa Machado
mais sobre a Wine & Soul (artigos publicados previamente):
O que há de novo no vale do Pinhão? o enoturismo da Wine & Soul em Vale de Mendiz
Wine & Soul 10 years old Tawny Port
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