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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Douro, o relatório geral da vindima 2021

A apreciação e o registo dos factos que marcaram o ano vitícola (com comentários exclusivos)

Vale do rio Pinhão (Cima Corgo). Fotografia de Luís Machado.

O Outono

    Terminada a vindima no Douro, o Outono começou com tempo seco, sem chuva e com temperaturas médias um pouco abaixo do normal, a que se seguiu chuva já no final do mês e início de Novembro 2020, mas em quantidade insuficiente, apesar dos valores de precipitação se enquadrarem nos valores médios. Em geral, no país, o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) considerou o mês de novembro um mês quente.

    As vinhas iniciam um período de dormência que durará até ao início da próxima Primavera e aguarda-se a queda das folhas na vinha para o começo dos trabalhos de poda, entretanto, decorrem os trabalhos no solo, lavra-se a terra nas vinhas, movimentam-se os solos para misturar a matéria orgânica e oxigenação. O mês de Dezembro decorre com temperaturas de acordo com a média e com alguma chuva em todas as sub-regiões até ao fim do Outono, com o registo da passagem da depressão "Dora" (4 e 5 de Dezembro), com chuva e uma massa de ar frio polar, descida de temperaturas e queda de neve nas cotas mais altas, acima dos 600/700 metros de altitude, nos altos de Sabrosa e Ervedosa.

O Inverno

    No início do Inverno a chuva parou. Tempo seco.

    No final de Dezembro as temperaturas descem subitamente com a passagem de uma massa de ar polar, com temperaturas médias registadas mais baixas relativamente aos valores médios, em cerca de 2ºC a 5ºC. No dia 26 Dezembro, temperaturas mínimas de 0,2ºC no Pinhão e em Adorigo e -3,2ºC na Vilariça. Seguiu-se chuva nos últimos dias do mês.

    O novo ano começou com um Inverno rigoroso, tempo muito frio persistente e seco, período em que as temperaturas desceram muito abaixo dos valores médios, cerca de menos 5ºC a 6ºC. Em Cambres (Baixo Corgo) e no Pinhão (Cima Corgo), registou-se uma temperatura mínima de -2,7ºC no dia 8 de Janeiro, e -6,4ºC na Vilariça (Douro Superior) a 7 de Janeiro. Situação que se manteve até ao dia 18 de Janeiro.

    "Persistência de valores baixos da temperatura mínima", de acordo com o IPMA. Temperaturas médias e mínimas inferiores aos valores médios dos últimos anos, em toda a região (aproximadamente menos 6ºC e 7ºC, e em algumas zonas com uma diferença ainda maior, como Soutelo do Douro e vale da Vilariça no Douro Superior, Cambres, no Baixo Corgo, Canelas, Adorigo e Pinhão no Cima Corgo) e temperaturas máximas que não passavam os 4ºc a 5ºC (em Sabrosa, Alijó, Pinhão e S. João da Pesqueira).

    Gelo e geada nas vinhas. Normalmente o tempo seco e as baixas temperaturas têm um papel importante nas vinhas durante este período de dormência e repouso vegetativo, uma vez que actua como um eficaz agente que ajuda a diminuir a probabilidade de incidência de doenças nas videiras.

    É nestas condições que decorre o primeiro acto do recomeço do ciclo dos trabalhos na vinha, a poda, um trabalho meticuloso e exigente em que é muito importante a experiência dos podadores e fundamental para a vida saudável da videira e para começar a definir a próxima vindima, é uma das operações mais importantes para o equilíbrio e qualidade da futura produção. Prepara-se a vinha para que volte a rebentar quando as temperaturas começarem a subir. Por esta altura, na paisagem de vinha pode-se observar o fumo que resulta da queima das varas deixadas depois da passagem dos podadores.

    Depois, no final de Janeiro e início de Fevereiro, as temperaturas (mínimas e máximas) subiram bastante acima dos valores médios, em cerca de 4ºC e a chuva voltou a toda a região do Douro e manteve-se até final do mês com algumas variações de intensidade. Nesta época do ano é importante para a reposição das reservas de água nos solos e prevenir o tempo quente e seco do Verão.

    A precipitação tornou-se forte, intensa e persistente durante vários dias, com a subida significativa do nível das águas do rio Douro no Peso da Régua, inundando a zona marginal, marina e cais, que obrigou a um acompanhamento constante. No dia 6 de Fevereiro foi emitido um alerta de cheias para várias albufeiras da bacia hidrográfica do Douro (Crestuma, Carrapatelo, Bagaúste, Valeira e Pocinho), que registaram reservas de água acima dos 90%. No dia 9 de Fevereiro, alerta de cheias na zona ribeirinha da cidade do Porto. O rio Douro e os seus afluentes correm caudalosos com o consequente aumento das cotas ao longo de todo o percurso do rio.

    O mau tempo e a chuva provocaram também constrangimentos na linha do Douro, em Covelinhas, por derrocada de pedras na linha do caminho de ferro, que obrigou ao corte entre a Régua e o Pinhão.

    Os registos meteorológicos: de acordo com os dados registados, em Novembro, Dezembro e Fevereiro, a média das temperaturas ficaram acima do valor histórico. Fevereiro foi dos meses mais quentes do período de Inverno, com desvios de +1,3ºC no Baixo Corgo, +2,1ºC no Cima Corgo e +2,5ºC no Douro Superior. Fevereiro foi também o mês que apresentou valores de precipitação acima do valor histórico nas três sub-regiões do Douro, com desvios entre os +56% e os +108%.

    Neste começo do mês de Fevereiro, as temperaturas em geral estão de acordo com os valores médios mas, a partir do dia 19, as temperaturas máximas e mínimas começam a subir num anúncio de Primavera antecipada. No Douro Superior, a animação de Inverno, as amendoeiras começam a florir.

    Nos primeiros dias de Março, com dias mais serenos, sem chuva e com as temperaturas a subir, as videiras preparam-se para saír do seu período de dormência e surgem as primeiras notícias de vida nas vinhas, os primeiros sinais do despertar das vinhas depois do frio e da dormência de Inverno, e um novo ciclo vegetativo que está prestes a começar, com o choro da videira (registado a 10 de Março na Quinta do Noval) em que a seiva pinga dos cortes da poda de Inverno e pára assim que as feridas ficam saradas.

    Logo após o choro da videira, surge o abrolhamento, um sinal da Primavera, em que os pequenos gomos irrompem dos nós deixados na poda (dia 14 de Março na Quinta do Convento de São Pedro das Águias e no dia 16 na Quinta Vale D. Maria, na sub-região do Cima Corgo), depois surge uma ponta verde e as pequenas folhas. Brevemente o verde voltará a cobrir a paisagem de vinha do Douro, o "bio-blitz".

    Esta época do ano é também marcada pelas enxertias, pelo tempo de dar nova vida às vinhas...

    Depois de um Inverno com muita água, Março foi um mês seco que decorreu praticamente sem chuva em todo o Douro.

Vinha da "Renova", Quinta do Noval, vale do rio Pinhão.

A Primavera

    No final do mês de Março as videiras estão no estado de folhas livres. Neste período, as temperaturas aumentam acima dos valores médios em cerca de 2ºC a 6ºC. Alguma chuva no início de Abril.

    No início de Abril, surge a notícia do aparecimento dos primeiros cachos e de uma boa nascença (Quinta de la Rosa, no Cima Corgo), a prometer uma produção pelo menos superior à do ano anterior.

    Em meados de Abril, volta a chuva e as temperaturas descem agora para os valores médios que se registam habitualmente nesta época do ano.

    A vinha prossegue o seu ciclo, as folhas desenvolvem-se e crescem de dia para dia, são um elemento fundamental da videira, vão dar inicio à fotossíntese produzindo a energia necessária ao seu crescimento. Com a formação dos primeiros cachos aproxima-se o período crítico da floração da videira (no dia 14 de Abril, na Quinta do Convento de São Pedro das Águias).

    A chuva de volta nos dias 21 a 26 de Abril, em intervalos regulares e com o registo de temperaturas acima da média. Abril foi um mês em que os valores de precipitação registados foram superiores face aos valores históricos, em toda  a região do Douro, com desvios de +7,7% no Baixo Corgo, +22% no Cima Corgo e +50% no Douro Superior.

    Na vinha, decorrem os trabalhos de despampa ou desladroamento, imprescindíveis para assegurar o equilíbrio da videira e controlar a produção ao eliminar o excesso de rebentos, uma vez que a rebentação excessiva vai roubar os recursos naturais da planta, como a água e outros nutrientes. Esta operação vai também permitir o arejamento e controlar as doenças como o míldio e o oídio. Assinala-se nesta ano a baixa pressão das doenças da vinha, consequência de um mês de Março sem chuva, sobretudo depois de anos anteriores em que as doenças da vinha tiveram mais incidência.

    A natureza segue o seu curso e os rebentos começam a ganhar forma.

    A floração ocorre (4 de Maio na Quinta Vale D. Maria, no vale do rio Torto, a 17 de Maio na Quinta do Vale Meão, no Douro Superior e a 25 de Maio na Wine & Soul, no vale do rio Pinhão) e o futuro da próxima vindima começa a ser definido. Neste  momento é fundamental que as condições climatéricas se mantenham equilibradas, sem fenómenos extremos, para que a polinização possa decorrer sem incidentes. Até aqui o ciclo vegetativo decorria bem.

    As temperaturas em geral mantêm-se dentro dos valores médios, descendo depois em toda a região a partir do dia 9 de Maio, e apareceu a chuva até ao dia 13, seguindo-se tempos seco. Em todo o caso, Maio foi um mês com valores de precipitação inferiores à normal climatológica.

    Depois de uma boa nascença, os períodos de chuva, humidade e calor, que surgem nesta época do ano, potenciam o habitual aparecimento de doenças fúngicas na vinha, míldio e o oídio, aconselhando tratamentos preventivos para antecipar o seu aparecimento.

    Até final do mês de Maio as temperaturas mínimas e máximas aumentam acima dos valores médios (em 3ºC aproximadamente). Entre o dia 31 de Maio e o dia 1 de Junho surgem notícias de algumas tempestades de granizo, com trovoadas, chuvas fortes e queda intensa de granizo, localizadas, mas que provocaram graves estragos nas vinhas, no território do concelho de Vila Real (nas freguesias de Guiães, Abaças, Andrães e Constantim) e em vinhas localizadas no território da região demarcada. As vinhas atingidas tinham já os cachos formados e ficaram apenas com as varas, falou-se em "catástrofe" e houve zonas em que a vindima ficou feita. A queda de granizo ocorreu também na zona do Pinhão e em geral, com variações, na sub-região do Cima Corgo, na Quinta de la Rosa algumas vinhas foram atingidas e espera-se que umas recuperem, outras nem tanto...

    A partir do dia 9 de Junho, as temperaturas aumentam, cerca de 3ºC acima dos valores médios, com temperatura máxima de 37,7ºC registada no Cima Corgo. Depois, pela segunda vez em duas semanas, no dia 13 de Junho, uma tempestade súbita e violenta, trovoada e granizo com muita intensidade, o que tem sido um fenómeno frequente em anos recentes no Douro. Os prejuízos causados foram elevados, com danos nas vinhas que, em alguns casos, vão demorar três anos a recuperar. No concelho de Vila Real, na região demarcada do Douro falou-se novamente de "catástrofe". Procedeu-se a tratamentos de cálcio para tentar salvar, conservar e cicatrizar as videiras mais atingidas. Houve freguesias deste concelho, dentro da região demarcada, onde a vinha é a principal actividade económica, onde 80% a 90% das vinhas ficaram destruídas. Em algumas zonas, o granizo cobriu de branco as vinhas. Registaram-se também ocorrências um pouco por todo o Douro, no Pinhão, S. João da Pesqueira e Tua, atingindo muitos lavradores, fornecedores de uvas às grandes casas da região.

    Foi um fim de Primavera dramático, com a ameaça constante do tempo instável, tempestades, chuva e oscilações de temperatura. Até Julho, o grande desafio foram os acidentes climáticos ocorridos. Em geral, uma Primavera muito instável e mesmo dramática e com temperaturas amenas, assim como o início do Verão mais fresco.

    A chuva voltou depois nos dias 15 a 18 de Junho, mês que se caracterizou por uma grande instabilidade climática e grande heterogeneidade na precipitação nas diferentes sub-regiões do Douro, com níveis acima dos valores médios, no Baixo Corgo +70%, no Douro Superior +224% e no Cima Corgo choveu menos 41% relativamente à normal climatológica. Os valores médios das temperaturas registadas foram inferiores ao valor histórico, entre -1,1ºC no Douro Superior e -0,6ºC no Baixo Corgo e sem diferenças no Cima Corgo.

Uvas tintas à chegada à adega, na Quinta do Vallado.

O Verão

    A partir do dia 21 de Junho, tempo seco, de acordo com as temperaturas médias da região e sem excessos. 

    A 30 de Junho, surge o "pintor" na Touriga Francesa do Douro Superior, com cerca de uma semana de atraso em relação a 2020, consequência do tempo mais fresco. A explosão do "pintor" dá-se a partir do dia 9 de Julho, na Quinta da Soalheira (em S. João da Pesqueira) e a 12 de Julho na Quinta do Noval (no vale do rio Pinhão). Meados de Julho com temperaturas altas, no Pinhão registou-se uma temperatura máxima de 38,2ºC e também no Cima Corgo, em Adorigo 39,5ºC, em Soutelo do Douro, 39,1ºC. Apesar destes dias de temperaturas altas, Julho foi considerado um mês seco e fresco.

    A partir do final do mês de Julho e início do mês de Agosto, as maturações das uvas intensificam-se. Foi um começo de Agosto com temperaturas mais frescas do que o habitual em todas as sub-regiões, menos 2ºC a 4ºC relativamente aos valores médios e com amplitudes térmicas de 9ºC a 10ºC.

    A vindima aproxima-se, com alguma apreensão com a incógnita do clima e o receio de calor excessivo o que, no entanto, acaba por não suceder.

    O Instituto do Vinho e da Vinha, publica uma previsão de aumento da produção de vinho no Douro em cerca de 20%, num ano de "desenvolvimento normal, com fenómenos de granizo muito localizado. O míldio e o oídio não tiveram impacto significativo na produção...".

A Vindima

    Em meados de Agosto, nos dias de pré-vindima, as equipas de viticultura iniciam os controlos e o acompanhamento das maturações na vinha. Um acompanhamento fundamental no terreno para a avaliação de uma série de parâmetros que nenhum outro método pode substituir, tais como, a prova dos bagos, a avaliação do sabor e da consistência da película das uvas e se a graínha está ou não castanha, ou se o bago se desprende com facilidade do pedúnculo.

    Já nos últimos dias de Agosto têm finalmente início as vindimas um pouco por toda a região, confirmando a tendência dos últimos anos de antecipação da data de vindima que, actualmente, ocorre mais cedo do que há 40 anos atrás. As semanas que se seguem serão determinantes. 

     Neste ponto, tudo está em aberto, não houve calor excessivo em Agosto, as temperaturas foram menos intensas e as noites foram frescas, o que era óptimo para os vinhos de mesa e mesmo para os vinhos do Porto.

    A vindima das uvas brancas iniciou-se no dia 16 de Agosto, na Quinta Vale D. Maria, a 20 de Agosto na Quinta de la Rosa e também na Quinta do Vallado, com a vindima das uvas de Moscatel Galego branco. Na Quinta do Crasto no dia 23 e na Quinta do Noval no dia seguinte, na Wine & Soul no dia 24. Nesta altura as temperaturas estavam altas no Douro, contudo, as noites eram frescas, o que acabou por ser benéfico para os vinhos brancos.

Os lagares tradicionais da adega de vinho do Porto da Quinta do Noval.

    A Churchill's iniciou a vindima das uvas tintas no dia 26 de Agosto, assim como a Vieira de Sousa (no Cima Corgo) e Conceito Wines (no Douro Superior). Quinta Seara D'Ordens e Quinta do Passadouro, no dia 27 e Quinta da Côrte, Quinta do Têdo e Wine & Soul no dia 31 de Agosto e no dia 3 de Setembro na Quinta de Vargellas.

    Depois, em plena vindima das uvas tintas, os problemas começaram com o aparecimento de chuva em 3 períodos distintos ao longo do mês, nos dias 1 e 2 e depois 7 e 9 de Setembro, em toda a região demarcada do Douro, o que gerou ansiedade e apreensão entre os produtores e algumas vindimas foram interrompidas por alguns dias. A chuva regressou nos dias 13 e 14 de Setembro, em quantidade significativa que, diga-se, nuns casos determinou a interrupção dos trabalhos para as vinhas recuperarem e noutros casos acabou por condenar a vindima, e mais tarde reapareceu a chuva nos dias 24 e 25 de Setembro.

    O pesadelo das chuvas de Setembro, em plena época de vindimas, um mês mais fresco com temperaturas inferiores à média, teve como consequência que a maturação das uvas foi atrasando, ressentindo-se as uvas de castas mais sensíveis como a Tinta Amarela e castas de maturação tardia como a Touriga Francesa, mesmo em zonas mais quentes como o Douro Superior.

"Quando nada o fazia prevêr, a vindima de 2021 apresentou-se como um enorme desafio para a enologia dos vinhos do Douro, mas sobretudo dos Porto. Começámos a vindimar no dia 24 de Agosto e durante duas semanas tivemos excelentes condições para a produção de vinhos. A partir do dia 10 de Setembro iniciou-se um período de dias de chuva que só terminou no início de Outubro e que obrigou a acelerar a vindima para reduzir o risco de queda dos níveis de açúcar nas uvas. Foi um ano em que especialmente as castas Tinta Francisca e Touriga Francesa necessitaram de muita atenção devido ao compacto cacho e fina película que apresentam. Creio que estamos em condições de produzir uma pequena quantidade de vintage 2021 da nossa Quinta de Vale D'Agodinho e na Quinta da Trovisca. Por agora necessitamos que os próximos dois Invernos ajudem a limpar e clarificar os vinhos.". 

(Óscar Quevedo, Produtor Quevedo Port Wine) 

    As decisões sobre a vindima das uvas tintas foram muito difíceis, uma vez que, genericamente, não apresentavam a maturação ideal e na terceira semana de Setembro muitas das melhores uvas não tinham ainda entrado nas adegas. No geral, a vindima prolongou-se até à primeira semana de Outubro, na Quinta de Vargellas (Taylor's) e na Fonseca Guimaraens terminaram no dia 24 de Setembro, na Graham's, no dia 27, com as últimas uvas de Touriga Francesa a entrarem na adega, na Wine & Soul, na Quinta do Vale Meão, na Quinta do Bom Retiro e na Quinta da Ervamoira (Ramos Pinto) a vindima terminou no dia 1 de Outubro. Na Real Companhia Velha prolongou-se até ao dia 15 de Outubro.

Adega da Quinta do Vallado.

"Quinta das Carvalhas... últimos dias de colheita (11 de Outubro). Vindima longa e "molhada" além de outros atropelos... a falta de mão-de-obra está a condicionar a oportunidade em colher no ponto óptimo de maturação... e por isso, viticultores e enólogos à "prova de fogo". Venha a poda... para o ano há mais...".

(Álvaro Martinho Lopes, Responsável pela Viticultura da Quinta das Carvalhas, Real Companhia Velha)

    Em resumo, a vindima de 2021 no Douro teve condições óptimas para a vindima das castas brancas e deu origem a vinhos brancos de excelente qualidade. No caso das castas tintas houve inúmeras dificuldades climatéricas numa vindima que se prolongou e com vários períodos de chuva em plena vindima e temperaturas mais baixas do que o habitual que prejudicaram a maturação regular das uvas que amadureceram mais tarde e não atingiram o ponto ideal de sabor. Em geral, não foi um bom ano e não podemos contar com grandes vinhos tintos em 2021. Obviamente que, numa região tão variada como é o Douro, existem sempre excepções e casos de produtores que conseguiram vindimar antes da chuva e num bom ponto de maturação das uvas.

    No Douro, em 2021, a produção acabou por ser ligeiramente superior à média dos últimos 10 anos.

    Refira-se também que, mais uma vez a vindima foi marcada pela pandemia covid-19 e a dificuldade persistente em recrutar mão-de-obra para os trabalhos na vinha.

    Como principais características dos vinhos deste ano, apontam-se a intensidade de aromas, a fruta fresca e uma boa acidez.

"Na minha opinião, a vindima de 2021 afigurou-se como extremamente desafiante. Não se verificando o calor excessivo que normalmente assola o Douro durante o Verão, diria que houve uma tendência de se atrasar o início do corte relativamente a anos anteriores, na tentativa de encontrar um melhor ponto de equilíbrio entre teor de açúcares e acidez, assim como uma melhor maturação fenólica. 

No meu ponto de vista,  as primeiras chuvas beneficiaram a evolução da maturação das uvas e o seu potencial qualitativo. Foi assim o período mais intenso para se vindimar. Com o adiantar da época de corte uma nova vaga de chuvas veio, a meu vêr, influenciar decisivamente o terço final da vindima.

Pessoalmente, tomei a decisão de não vindimar algumas vinhas de Touriga Nacional, em detrimento de parcelas de Touriga Franca e nas vinhas mais velhas, por sentir que as películas estariam em melhor estado de aguentar o impacto da chuva.

No geral, apesar das dificuldades sentidas tanto devido às instáveis condições climáticas verificadas como à escassez de mão-de-obra disponível para vindimar, acho que estamos perante vinhos que irão surpreender, num estilo fresco e elegante mas com muita intensidade e caractér.".

(Ricardo Nunes Pereira, Director de Produção da Churchill's)


©Hugo Sousa Machado

  Informação sobre vindimas anteriores:

Douro, a vindima 2021, um testemunho em primeira mão

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