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sábado, 30 de novembro de 2019

Douro, relatório da vindima 2019

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Vale do rio Tedo, sub-região do Cima Corgo.


























       Um ano sem sobressaltos, favorável ao ciclo da vinha...      
   O bom vinho nunca é igual todos os anos, precisamente porque os anos raramente são iguais e o vinho deve ser também o resultado e a expressão das características do ano vitícola, assim como do lugar onde nasce e do homem que o produz. Para melhor o compreender e apreciar, devemos ter presente e perceber tanto quanto possível todos estes diferentes aspectos. Neste texto consideramos o ano vitícola 2019 seguindo os apontamentos registados ao longo do ano.

    A vindima de 2018 terminou em meados de Outubro, entre a 2.ª e 3.ª semana do mês, coincidindo com as primeiras chuvas de Outono, a que se seguiu um mês de Novembro chuvoso e, em geral, um Outono igualmente chuvoso, que foi muito importante para repôr as reservas de água nos solos. Dezembro começou também com alguma precipitação.

Inverno
    Fim do Outono e início do Inverno com temperaturas amenas para esta época do ano, depois um final de Dezembro e início de Janeiro 2019 com tempo seco, frio e geada.
    Fevereiro continuou sem ou quase sem chuva e com as temperaturas acima da média, foi um mês de Fevereiro quente, com pouca chuva e já numa situação de seca.

    O Inverno e a Primavera foram secos e com temperaturas amenas - Maio acabou por ser um mês mais quente e a excepção a esta regra - contudo, as condições foram favoráveis ao progresso do ciclo vegetativo da vinha.
    Ainda antes da chegada da Primavera, surgem notícias de abrolhamento precoce em alguns pontos do Douro, o momento que marca o início do ciclo vegetativo da videira, consequência de um Inverno com temperaturas amenas, superiores ao habitual, que antecipou e acelerou o início do ciclo na vinha.

    No início de Março, manteve-se a situação generalizada de seca e muito baixa precipitação.

Primavera
    No final do mês de Março, o começo da Primavera é marcado por temperaturas acima da média registadas em todas as sub-regiões da região demarcada do Douro.

    Vida nova na vinha com o rebentamento das primeiras folhas.

    Em plena Primavera, no início de Abril, subitamente, houve um momento em que a situação climatérica se inverteu, a temperatura baixou para valores inferiores à média e a chuva apareceu em toda a região, embora tenha sido insuficiente.
    Ainda em Abril, a Prodouro (Associação de Viticultores Profissionais) e o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), anunciam e aconselham medidas de tratamento anti-míldio.

    Depois, em Maio, tempo quente e temperatura de acordo com os valores médios para esta época do ano. Registaram-se temperaturas máximas de 30º C por toda a região do Douro.

    Em geral, até aqui tempo seco e temperaturas amenas, nenhuma ou precipitação insuficiente, pouca humidade e, ao contrário do que sucedeu em anos anteriores, não ocorreram fenómenos climatéricos inesperados, irregulares ou extremos que prejudicassem a produção (como as chuvas intensas e repentinas, as tempestades de granizo, o calor extremo com os fenómenos de escaldão das uvas ou a desidratação das videiras), sobretudo na fase crítica da floração das uvas, que ocorreu este ano em condições climatéricas muito favoráveis.

    Durante o mês de Maio, com temperaturas altas, baixa precipitação e pouca humidade, a pressão das doenças da vinha foi muito baixa, não houve ataques de míldio ou oídio dignos de nota, o que por sua vez levou a uma menor intervenção na vinha com a redução dos tratamento habituais necessários.


"boas condições para a floração, trazendo assim um potencial produtivo bastante interessante.". (Francisco Olazabal, Enólogo responsável da Quinta do Vale Meão)

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Vale do rio Tedo, sub-região do Cima Corgo (2).

Verão
    O tempo seco manteve-se no começo do Verão, com as temperaturas a acompanhar os valores médios para a época. Mais no final de Junho, com o tempo seco e temperaturas máximas altas e superiores à média (registou-se 37,2ºC na Vilariça no Douro Superior) e com uma elevada amplitude térmica.

   A fase do "pintor" aconteceu a partir de meados de Julho nas vinhas exuberantes e com uma notória vitalidade, um prenuncio do aumento da produtividade.

    Em pleno Verão e numa situação de seca generalizada, houve chuva no final de Agosto (foi decretado "alerta laranja" para o distrito de Vila Real com previsão de chuva e trovoada, contudo, sem consequências dignas de registo nas vinhas) com intensidade em algumas zonas do Douro (Pinhão e São João da Pesqueira), que acabou por ser benéfica para as videiras e que, com um Verão de temperaturas amenas contribuiu para a qualidade das uvas e do vinho, com maturações regulares, lentas e suaves, mostos equilibrados e teores alcoólicos controlados. Não houve ocorrências de calor extremo e prolongado nas vinhas e em geral as condições climatéricas foram benéficas e assim se mantiveram até ao início das vindimas.

    A vindima teve início em final de Agosto e começo de Setembro, com as temperaturas altas e uma situação meteorológica de seca que se manteve, com tempo quente mas com noites mais frescas. As uvas tintas começaram a ser vindimadas na segunda semana de Setembro.

    As notícias do começo das vindimas no Douro chegaram a fazer referência a um aumento da produção que podia atingir 30%, considerando as produções muito baixas das últimas vindimas de 2017 e 2018, superando agora os valores médios de produção.
    Em época de vindimas volta a recorrente pressão da falta de mão-de-obra e a dificuldade em contratar trabalhadores para a vindima (não só durante o período de vindima mas também para os restantes trabalhos na vinha ao longo do ano), um problema crónico e um dos assuntos mais sérios na actualidade e futuro da região do Douro.

    Durante a vindima as temperaturas foram moderadas, com tempo quente durante o dia e as noites com temperaturas mais frescas, o que permitiu em geral maturações uniformes e uma boa acidez. Não ocorreram imprevistos climatéricos, o que permitiu seguir os planos de vindima sem alterações nem sobressaltos.

    Registe-se ainda que, a meio da vindima, nos dias 21 e 22 de Setembro, houve alguma chuva por todo o Douro, sem consequências na qualidade das uvas, voltando depois o tempo quente e seco.

    A vindima terminou na maioria dos casos, em meados de Outubro, com a chegada das primeiras chuvas de Outono. E assim se iniciaram também os trabalhos nas adegas e nas salas de prova.

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Quinta de la Rosa, sub-região do Cima Corgo, chegada das primeiras uvas tintas.

    Em resumo, foi um ano vitícola sem grandes extremos nem fenómenos climatéricos imprevistos, o que favoreceu o ciclo da vinha e as maturações. O relatório de vindima publicado pela Symington Family Estates refere a boa qualidade dos vinhos produzidos, "impressionante" é o termo utilizado.

    As principais características dos vinhos deste ano são equilíbrio, frescura e boa acidez, mas em prejuízo do corpo e da estrutura. Houve também um aumento dos volumes produzidos como já notamos. Apesar dos comentários que referem "um ano superior" e de "muito boa qualidade", também ouvimos comentar entre os produtores que vinhas com excesso de vitalidade e grandes produções raramente são sinónimo de qualidade para vinhos do Porto Vintage. Neste caso particular do vinho do Porto Vintage, não parece tratar-se de uma ano excepcional.

©Hugo Sousa Machado

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